A governanta e o coronel Carlos Pio
Correio Braziliense - 12/05/2011 |
Professor de economia política internacional da UnB (http://carlospio.wordpress.com) Com a desculpa de conter e domesticar os arroubos violentos do eterno presidente venezuelano — sua afronta aos Estados Unidos de Bush —, Lula e seus fiéis escudeiros celebraram o "modelo democrático" chavista (debati esse tema nas duas Casas do Congresso brasileiro, contra a retórica terceiro-mundista do embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, então secretário-geral do Itamaraty) e propuseram a entrada desse vizinho no Mercosul — o que veio a ser aprovado pelo Senado, com parecer do senador tucano Tasso Jereissati. Estratégia temerária para os cofres públicos brasileiros e como indução a investimentos privados naquele país. Desde 2003, os poderes do golpista bolivariano foram fortalecidos em detrimento dos do Legislativo — a verdadeira esfera representativa da democracia — e do Judiciário. Em dezembro último, dias antes da posse dos novos deputados (40% dos quais oposicionistas), a Assembleia Nacional, então controlada por uma bancada de 90% de chavistas, aprovou uma lei que delegou seus próprios poderes ao Executivo. No outro flanco, Chávez indicou (por meio da Assembleia) todos os 32 juízes do Supremo Tribunal. Presidente forte, sociedade fraca, economia decadente. Agora, diante de nova governanta no Palácio do Planalto, o coronel cancela a primeira visita que faria ao nosso país, alegando dores no joelho. Não são apenas os joelhos do amigo de Kadaffi e de Ahmadinejad que estão em piores condições do que em 2003. Quase tudo mudou para pior na Venezuela: crescem a inflação, o desemprego, a criminalidade; deterioram-se a estabilidade jurídica, o ambiente de negócios, a produtividade e o volume de produção de petróleo; minguam as liberdades individuais (de imprensa, de participação política e econômicas). Que diferença em relação à figura daquele fanfarrão que afrontou Bush ("sinto um cheiro de enxofre no ar") na sede da ONU, em Nova York, e num estádio de futebol em Buenos Aires, à véspera de uma das rodadas negociadoras da finada Alca! Daquele generoso e solidário magnata do petróleo, que comprou títulos da dívida externa, financiou (ilegalmente) campanhas eleitorais, prometeu investimentos em infraestrutura e em programas sociais nos países vizinhos, inclusive no Brasil! Que o digam a Petrobras, o BNDES e a população da pernambucana Abreu e Lima — todos esperam a concretização das promessas do caudilho. Na política internacional, Chávez cansou de elogiar e aliar-se a ditadores africanos e muçulmanos, política que o unia, mais do que o afastava, do ex-presidente Lula e sua equipe de formuladores de política externa (Celso Amorim, Samuel P. Guimarães e Marco A. Garcia). Nossa governanta já se posicionou contra a renovação dos vínculos com o Irã, um dos mais festejados aliados do coronel venezuelano e não lhe custará muito simplesmente desdenhar do vizinho barulhento, mal-educado, fanfarrão e financiador de terroristas. Sim, isso mesmo, pois acabam de ser comprovadas as antigas suspeitas de que seu governo financiou, hospedou e treinou guerrilheiros colombianos declaradamente hostis à expansão do estado de direito no país de Garcia Márquez. (Veja na internet relatório do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos — IISS, na sigla em inglês — sobre os arquivos digitais de Raúl Reyes, líder das Farc morto em território equatoriano por tropas colombianas, em 2008, disponível em www.iiss.org) Chávez que ponha suas barbinhas de molho... Fidel Castro disse, no ano passado, que o modelo cubano não funciona nem mesmo em Cuba. Seu irmão todo-poderoso demitiu meio milhão de funcionários públicos da ilha paradisíaca e acaba de liberar vistos de saída para pretensos turistas. Já na Venezuela, Chávez e sua claque de socialistas predadores — os quais ficam mais ricos a cada nacionalização de empresas privadas — continuam firmes e fortes a proclamar as virtudes do Socialismo do século 21. Era só o que nos faltava! |