Relações perigosas
da veja
Sob suspeita de ter dado dinheiro ao chefe do tráfico
na favela carioca onde nasceu, o atacante Adriano soma
mais um enrosco à sua turbulenta biografia
Roberta de Abreu Lima e Thiago Prado
Fabiano Rocha/Ag. O Globo |
Banalização do mal Na Itália, Adriano posa com uma arma de brinquedo (à dir.): a polícia investiga suas relações com o traficante que liderou o ataque a um helicóptero que matou três PMs (à esq.) |
Às vésperas de embarcar para a Itália, onde jogará pelo Roma, o atacante Adriano se viu enredado, na semana passada, em novo escândalo. Recai agora sobre o jogador a suspeita de ter dado 60 000 reais a um dos chefões da facção criminosa Comando Vermelho, Fabiano Atanásio, conhecido como FB. É o mesmo bandido que, em outubro de 2009, liderou o ataque a um helicóptero da polícia que viria a explodir com seis soldados a bordo, no Rio de Janeiro. Ao grampear por oito meses trinta pessoas próximas à quadrilha liderada por FB – uma delas o primo de Adriano, Vagner Lima –, a polícia deparou com uma conversa na qual o próprio jogador se refere à quantia supostamente devida ao traficante. Na gravação, ele pede ao primo para passar no banco e sacar os tais 60 000 reais, garantindo que o gerente já estaria ciente da operação. Vagner, por sua vez, avisa à mulher, Márcia, que vai dar cabo do problema, ao que ela comenta: "O Fabiano está sufocando ele, né?". Em depoimento à polícia, Adriano se limitou a dizer que o dinheiro, na realidade, era para comprar cestas básicas, que seriam distribuídas em Vila Cruzeiro – favela da Zona Norte do Rio onde ele nasceu e que continua a frequentar.
O jogador, que ainda pode ser indiciado, nunca se preocupou em esconder que mantém estreitos laços de amizade com traficantes da Vila Cruzeiro. A um deles, Paulo Rogério de Souza, o Mica, um dos bandidos mais procurados da cidade e amigo de infância de Adriano, suspeita-se que o atacante teria até dado uma motocicleta Honda Hornet, avaliada em 35 000 reais. O caso veio à tona quando a polícia, que ainda está às voltas com a investigação, descobriu que a moto, comprada por Adriano, havia sido registrada em nome da mãe do traficante (uma senhora de 66 anos que nem sequer sabe dirigir). Na semana passada, enquanto tentava explicar o enrosco com o chefão do Comando Vermelho, o jogador ainda precisou vir a público justificar-se sobre fotos em que ele aparece fazendo com as mãos as iniciais da facção criminosa (CV) e posa com uma arma de brinquedo em punho. "Era só uma brincadeira", diz Adriano. Em sua lógica peculiar, o jogador não demonstra nenhum constrangimento em fazer apologia de um bando de criminosos que representa hoje a maior chaga social do Rio de Janeiro.