Tuminha dá um tempo
Depois da revelação de que ele havia tentado comprar um videogame no mercado negro e visitara a China na companhia de um acusado de contrabando, o secretário nacional de Justiça e presidente do Conselho Nacional de Combate à Pirataria, delegado Romeu Tuma Júnior, foi temporariamente afastado do cargo na semana passada. Ou, como ele preferiu anunciar, resolveu "tirar umas férias" do serviço. Desde o último dia 5, a situação de Tuma Júnior só piora. Primeiro, vieram as gravações telefônicas feitas pela Polícia Federal em que ele aparece tentando cometer um dos crimes que é pago para combater (como o videogame Wii estava "muito caro na Europa", Tuminha expressava o desejo de adquiri-lo em versão contrabandeada). Depois, surgiram as fotos em que o secretário aparece em visita oficial à China ladeado por LiKwok Kwen. O chinês conhecido como Paulo Li está preso desde o ano passado sob acusação de contrabandear, anualmente, pelo menos 12 milhões de reais em celulares baratos, aqui revendidos com etiquetas de marcas famosas. Era grave, mas não era tudo. Conforme publicou o jornal O Estado de S. Paulo, em fevereiro passado a Polícia Federal já havia emitido parecer favorável à abertura de inquérito policial contra o secretário. A decisão se deveu ao fato de o nome de Tuma Júnior ter surgido, sempre de forma comprometedora, em quatro investigações conduzidas pelo órgão – além daquela envolvendo o amigo Li, três outras relativas a emissão ilegal de passaportes e concessões irregulares de visto para estrangeiros. Tuminha foi alçado ao cargo de secretário de Justiça em 2007 graças a uma barganha que envolveu a ida de seu pai, o senador Romeu Tuma, para o PTB, partido da base aliada do governo. O estouro do escândalo, na semana retrasada, abalou o clã a ponto de os Tuma convocarem uma reunião familiar para decretar silêncio em torno do caso. É improvável que Tuminha retome o posto ao fim das suas "férias". Embora saiba disso, o delegado fez questão de deixar claro que não está preocupado com o seu destino. Na terça-feira, diante dos jornalistas que o cercavam, despediu-se dizendo que voltará "quando estiver moreninho". Tanta faceirice talvez guarde relação com a importância que o delegado sabe que seu trabalho tem para o país e para o governo do PT. Por dever funcional, o secretário tem acesso a informações sigilosas que envolvem operações financeiras e remessas de dinheiro para o exterior, por exemplo. Além disso, na qualidade de delegado de polícia, trabalhou em casos altamente sensíveis para o governo, como o do assassinato do prefeito de Santo André Celso Daniel. Ao declarar estar "babando" para prestar esclarecimentos à Comissão de Ética Pública, órgão ligado à Presidência da República, Tuminha fez muita gente perder o sono.Chamuscado por denúncias e prestes a ser investigado pela PF,
o secretário de Justiça resolve "tirar férias" e insinua que não
pretende cair calado
Laura DinizDida Sampaio/AE VOU ALI E JÁ VOLTO
O delegado diz que vai "pegar um sol", mas que espera "babando" o momento
de falar à Comissão de Ética