Saturday, May 22, 2010

Os palanques vespertinos


Programas como os de Ratinho e Datena ganharam relevância inédita
na atual corrida eleitoral. O que os candidatos e os apresentadores
buscam faturar com isso

Fotos Luiz maximiniano e Danilo Verpa/Folha Imagem
ENTRE O CIRCO E O SANGUE
Dilma Rousseff, com novo penteado, no programa de Ratinho na semana passada (à esq.),
e José Serra na entrevista com Datena: "Bom para todo mundo", diz o apresentador


Na última segunda-feira, Dilma Rousseff desembarcou de helicóptero na sede do SBT, na Grande São Paulo, para gravar uma entrevista que foi ao ar naquela tarde no Programa do Ratinho. Ao ver a pré-candidata do PT à Presidência com novo penteado e toda maquiada, o apresentador não se conteve. "Foi aquele japonês chato que consertou o seu cabelo?", perguntou (Ratinho se referia ao cabeleireiro Celso Kamura). Dilma se submeteu então a mais de vinte minutos de bate-papo. Na semana anterior, o tucano José Serra havia passado por maratona semelhante. E assim se confirma: na atual pré-campanha presidencial, os programas populares ganharam uma relevância inédita. Em março, Serra admitiu pela primeira vez sua candidatura em entrevista ao apresentador José Luiz Datena, da Band. Depois, foi ao policialesco comandado por ele, o Brasil Urgente. Dilma também esteve lá. "Serra deu um banho. Já Dilma começou nervosa, mas se recuperou. Acabou sendo bom para todo mundo", diz Datena.

Ao comparecerem a esses programas, os candidatos têm na mira principalmente as mulheres da classe C, que são parte significativa da audiência deles. "Esse público é uma espécie de sensor dos anseios da população. São elas que levam as crianças à escola e vão aos postos de saúde", diz o cientista político Rubens Figueiredo. Por isso, os candidatos se esforçam para exibir uma linguagem simples e falar de temas que preocupam essa audiência. No Programa do Ratinho,Serra falou sobre segurança e prevenção do câncer no colo do útero, enquanto Dilma enalteceu os programas sociais do governo petista. Mas os dois perseguiam objetivos distintos. Para Serra, interessa consolidar a vantagem nas pesquisas entre as mulheres. Já Dilma deseja quebrar a resistência delas à sua candidatura. Ela passou a entrevista tentando colar sua imagem à de Lula e vendendo a ideia de que é "gente como a gente". No que, aliás, teve uma forcinha. Se havia sido simpático com Serra (e, semanas antes, com Marina Silva), Ratinho estava visivelmente efusivo na entrevista com Dilma. "Levanto a bola para todos. Senão os candidatos ficam com medo de voltar", diz.

Serra e Dilma mantiveram inalterada a média de Datena, na casa dos 5 pontos. No Ratinho,Serra levantou o ibope, com 6 pontos, enquanto Dilma derrubou o índice para 4. A audiência não é, contudo, o que mais conta nesses casos. Para Ratinho, cuja atração é um verdadeiro circo, e Datena, que inunda os lares com sangue, a presença dos candidatos traz respeitabilidade. E isso atende a um cálculo comercial: nada melhor do que uma imagem de seriedade para atrair anunciantes mais qualificados – que, ao contrário dos presidenciáveis, têm sérias reservas aos programas popularescos.

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