Saturday, May 15, 2010

Novo premiê, novas práticas


O inglês David Cameron, do Partido Conservador,
anuncia corte de gastos e reforma política


Duda Teixeira

John Stilwell/Pool
A BÊNÇÃO, RAINHA
Cameron aceita o convite de Elizabeth II para formar novo governo: moderninhos


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Na Inglaterra, as instituições modernizam-se em ritmo bem mais lento do que a sociedade. O país mantém tradições como a comemoração do aniversário da rainha em junho, apesar de ela ter nascido em abril, a troca da guarda no palácio e a sagração de cavaleiros. Os ingleses adaptam bizarrices como essas à vida moderna sem perder a elegância. Na semana passada, por exemplo, o novo primeiro-ministro David Cameron, do Partido Conservador, foi recepcionado com um aperto de mãos pela rainha Elizabeth II ao visitá-la no Palácio de Buckingham, onde esteve para receber a bênção de Sua Majestade. Em outros tempos, a etiqueta mandava jamais apertar a mão da rainha, apenas tocá-la brevemente. Horas antes, Elizabeth II havia cumprimentado com o mesmo desprendimento do protocolo o trabalhista Gordon Brown na sua despedida do cargo de primeiro-ministro. Cameron assumiu o posto com duas missões principais. Uma aproxima e a outra distancia a Inglaterra do seu passado.

A primeira pretende recuperar a autoestima econômica dos ingleses, acossados pelo rescaldo da crise mundial dos últimos dois anos, pelo risco de colapso financeiro na Europa continental e pelo alto déficit fiscal do país. Para cobrir o rombo, Cameron anunciou na semana passada uma redução orçamentária de 9 bilhões de dólares e, simbolicamente, um corte de 5% no salário dos ministros. A segunda missão é modernizar o sistema político inglês, eliminando algumas de suas antiguidades – como a existência de membros não eleitos em uma das casas legislativas, a Câmara dos Lordes. Os planos de reforma política são uma concessão ao Partido Liberal-Democrata, com o qual Cameron precisou se aliar para conseguir maioria na Câmara dos Comuns. Como parte do acordo, o cargo de vice-primeiro-ministro ficou com o liberal-democrata Nick Clegg. A principal proposta, que depende de aprovação em referendo, prevê a adoção do voto alternativo (veja o quadro), que dá mais chances aos candidatos dos partidos pequenos. Uma das justificativas para a mudança é que o bipartidarismo não atende mais aos anseios dos eleitores. Há sessenta anos, 97% dos votos iam para os trabalhistas e os conservadores. Na última eleição, os dois principais partidos receberam menos de dois terços dos votos. Pelo bem da coalizão, os conservadores concordaram com o referendo, mas reservam-se o direito de fazer campanha contra a modificação. Uma democracia secular deve se aprimorar. Sem pressa

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