O tucano alça voo
Serra também falou sobre eficiência na gestão da máquina pública. "Austeridade, para nós, não é mesquinharia econômica. É cortar desperdícios e reduzir custos precisamente para fazer mais com aquilo de que se dispõe." Em seguida, enfileirou uma série de dados referentes às realizações alcançadas por sua administração, que estarão presentes em sua campanha no rádio e na TV: a inauguração do trecho sul do Rodoanel, a expansão da rede do metrô, a redução dos homicídios em São Paulo e a aprovação da lei antifumo, copiada em diversos estados. Além de repisar esses pontos, Serra também deverá entrar no debate econômico. Ele vai defender dois pontos de vista principais: 1) Se o Brasil está hoje em uma situação confortável, é porque atravessa um período virtuoso que já dura quase dezesseis anos, iniciado no governo de Fernando Henrique Cardoso, com a implementação do Plano Real e a estabilização da inflação; 2) Ele, Serra, é o nome mais qualificado para dar continuidade a esse ciclo de progresso. Serra já pode se preparar para enfrentar a perseguição agressiva - e muitas vezes violenta - dos movimentos sociais controlados pelo PT. Enquanto ele fazia seu discurso de despedida, um grupo de 4 000 sindicalistas tentava fechar a Avenida Paulista e se esforçava para entrar em confronto com a Polícia Militar, bradando slogans antitucanos. Queriam armar uma cena de sangue para manchar o último dia de Serra no governo. A maior evidência de que a gritaria sindical é puramente política é a altíssima aprovação do governo Serra em São Paulo. Somando ótimo, bom e regular, 87% dos paulistas aprovam seu governo, segundo o Datafolha. Ou seja, seu trabalho é admirado, ao contrário do que querem fazer crer os sindicalistas. Eles não conseguiram armar a confusão que esperavam na semana passada, mas não vão desistir. A CUT, braço petista no meio sindical, já definiu que vai para a rua fazer barulho contra Serra. A UNE, financiada com recursos do governo federal, também deve ajudar. O MST, então... Está oficialmente aberta a temporada de caça aos votos de 2010. E ao candidato tucano. Com reportagem de Laura DinizA seis meses da eleição que definirá o próximo presidente
da República, José Serra, líder nas pesquisas, deixa o governo
de São Paulo para se dedicar à campanha em tempo integral
Fábio PortelaLuiz Carlos Marauskas/Folha Imagem DE SÃO PAULO PARA O BRASIL
Em sua despedida do Palácio dos Bandeirantes, Serra falou em "honra" e "caráter" para se contrapor ao estilo petista de fazer política
Nos últimos meses, boa parte do PSDB esteve à beira de um ataque de nervos. Ela não se conformava com o fato de José Serra, candidato do partido à Presidência da República, evitar fazer declarações públicas sobre sua campanha enquanto ainda ocupava o cargo de governador de São Paulo. Serra, líder nas pesquisas, não queria misturar as bolas. Para ele, governo é uma coisa, campanha é outra. Ele decidiu que só inauguraria o discurso de candidato quando deixasse o Palácio dos Bandeirantes. E foi o que fez. Na quarta-feira passada, despediu-se do governo paulista. Era o fim do prazo legal para que os políticos se desvinculassem de seus cargos executivos para disputar as eleições de outubro. O lançamento oficial da candidatura de Serra será em Brasília, no sábado que vem, mas seu discurso de despedida do governo paulista já deu o tom da campanha tucana. Ele trouxe para o debate um tema que causa arrepios ao PT: a ética na política. "Aqui não se cultivam escândalos, malfeitos, roubalheira. Também nunca incentivamos o silêncio da cumplicidade e da conivência com o malfeito", disse Serra. Qualquer semelhança entre o "silêncio da cumplicidade" e a reação do presidente Lula ao caso do mensalão petista está muito além da coincidência, é claro.