Até tu, Goldman?
As metáforas costumam ser enganosas, mas no caso em pauta é adequado recorrer a uma delas. A investigação aberta pelo governo americano para apurar fraudes cometidas pelo banco Goldman Sachs equivale no mundo das finanças ao papa ser alvo de um inquérito por pedofilia. Na sexta-feira, o Goldman Sachs, o banco mais poderoso e de melhor reputação de Wall Street, foi oficialmente notificado de que está na mira da Securities and Exchange Comission (SEC), a agência do governo que fiscaliza o mercado financeiro. O banco é acusado de fraude na venda de aplicações financeiras atreladas a contratos de hipotecas de alto risco (os subprime). Foram esses títulos que, ao perder valor, desencadearam o efeito dominó cujo impacto pulverizou as economias de bancos e países na crise financeira que explodiu em 2008. Segundo a SEC, uma operação fraudulenta foi montada em 2007 por um dos vice-presidentes do Goldman, Fabrice Tourre (que, então, tinha apenas 29 anos). Acusação semelhante foi feita contra John Paulson, administrador de um dos maiores fundos de investimento do mundo. Tourre e sua equipe convenciam clientes a investir em contratos criados pelo próprio banco e ligados às tais hipotecas. O instrumento financeiro, chamado de Abacus, teria amealhado cerca de 11 bilhões de dólares. Simultaneamente, a instituição e investidores selecionados, como Paulson, apostavam contra esses papéis podres cujas perdas já haviam sido estimadas, inclusive, pelos organizadores do esquema. Aqueles que confiaram no Goldman tiveram suas economias pulverizadas, enquanto os participantes da operação faturaram bilhões. Paulson, por exemplo, viu sua conta bancária engordar em 4 bilhões de dólares. "O produto financeiro era novo e complexo, mas a fraude e os conflitos de interesse pre-sentes no esquema são velhos conhecidos", afirmou Robert Khuzami, diretor da SEC. A acusação contra o banco, cujas ações caíram mais de 10% na sexta-feira, chacoalhou os mercados globais. As bolsas de todo o mundo, que vinham se recuperando de forma tímida mas constante, encerraram o dia no vermelho. Em nota, o Goldman negou veementemente a fraude. Difícil será convencer os contribuintes americanos. Depois de receber mais de 10 bilhões de dólares de auxílio do governo em 2008, a instituição registrou no ano passado lucro de 13,4 bilhões de dólares e pagou bônus generosos a seus funcionários. Pelo que demonstrou a investigação da SEC, o Goldman sabe como ganhar dinheiro. Agora terá de provar que não infringiu a lei. Caso contrário, ficará sujeito a uma multa bilionária e perderá o manto imaculado de excelência que ostentou até a semana passada.O mais poderoso e reputado banco de investimentos
do mundo será investigado por fraudeBrendan McDermid/Reuters CONTÁGIO
A investigação sobre o Goldman Sachs derrubou as bolsas globais