Saturday, March 20, 2010

Ferveção em Arapiraca


Vídeo que mostra padre e ex-coroinha fazendo sexo alvoroça a cidade alagoana


Leonardo Coutinho

O COROA E O COROINHA
O padre Barbosa e Fabiano Ferreira (ao lado): da luxúria às barras dos tribunais


A alagoana Arapiraca deve seu nome a uma madeira de poderes energéticos e sua fama ao fato de ter sido a capital nacional do tabaco até os anos 90. Na semana passada, passou a ser conhecida também no exterior. Foi citada em reportagens de alguns dos maiores jornais do mundo depois que se soube que um de seus padres, monsenhor Luiz Barbosa, de 82 anos, mantivera um tórrido relacionamento amoroso com o ex-coroinha Fabiano Ferreira, de 20 anos. As cenas mais vibrantes do romance foram registradas em um DVD que pode ser adquirido por 2 reais em qualquer esquina de Arapiraca. Nele, vê-se o monsenhor e o coroinha fazendo sexo oral um no outro simultaneamente. Depois que o vídeo foi divulgado, o rapaz apareceu para contar que o religioso o assediava desde os 12 anos, quando ele começou a auxiliar as missas da Igreja São José. O cinegrafista que registrou o intercurso de Ferreira e do sacerdote, Cícero Barbosa, e outro ex-coroinha revelaram ter sido seduzidos não só pelo monsenhor, mas também por outros dois clérigos. Alvo de acusações semelhantes em vários países – até o papa Bento XVI está sob suspeita de ter encoberto um caso de relação sexual entre um padre e um menor de idade, quando era arcebispo na Alemanha –, o Vaticano expressou preocupação com o episódio, e a diocese afastou os três padres de suas funções.

Monsenhor Barbosa reagiu denunciando os rapazes ao Ministério Público como chantagistas. Contou que percebeu que Ferreira dava espiadas na janela enquanto trocava carícias com ele. A certo momento, notou que estava sendo observado. "Vai atrás dele", ordenou Barbosa. Ferreira não foi. Voltou dias depois e cobrou 5 milhões de reais para manter o vídeo em segredo. O monsenhor negociou, e o preço do silêncio do amante caiu para 39 000 reais. Os termos do acordo constam de um contrato lavrado em cartório. A história foi mantida em sigilo até o fim de 2009, quando um vigário resolveu assumir as finanças da Igreja Santa Edwiges. Até então, o dinheiro da paróquia era gerido por Carmelita Lima. Leiga, ela pleiteava que a diocese reconhecesse uma congregação que havia criado, a Casa da Esperança Santa Edwiges. Quando o bispado vetou suas aspirações, os pecados do monsenhor contra o celibato se tornaram públicos. O filho de Carmelita, Alterman Lima, passou a representar os ex-coroinhas. Suspeita-se que ele esteja envolvido na divulgação das cópias do DVD que pipocam em Arapiraca. A VEJA, Alterman disse que está apenas "mostrando quem são os pecadores de verdade" – na sua versão, os sacerdotes – e que só permite que os moços falem com a imprensa mediante pagamento. "Se houver ajuda financeira, a gente fala. Senão, a conversa termina", afirmou.

O caso foi parar na Justiça. Os promotores analisam se Alterman, sua mãe e os ex-coroinhas podem ser acusados de extorsão e formação de quadrilha, puníveis com até treze anos de cadeia. Monsenhor Barbosa os processa por calúnia, difamação e invasão, cujas penas excedem três anos. Já Barbosa e seus dois colegas de sacerdócio são investigados por crimes sexuais. Como ainda não apareceram provas desses delitos, é provável que o monsenhor seja acusado apenas de infringir o celibato. Nesse caso, será julgado somente pela Igreja – e pela Justiça divina.

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