...e lar das sacoleiras virtuais
As marcas mais cobiçadas nesse segmento, como Farm, Espaço Fashion, Forum e Melissa, são aquelas que, em alguma medida, importaram para o seu mercado um conceito que se originou no nicho do alto luxo: o da tiragem limitada. Explica a inglesa Lorna Hall, especialista em varejo: "A ideia de que logo não haverá mais certa peça de roupa ou acessório à venda faz com que as pessoas, com medo de perder uma oportunidade, acabem comprando por impulso". A ansiedade é maior para quem não tem tempo de ir às compras ou vive numa cidade que não dispõe das lojas mais requisitadas. "Vendo até esmalte de unha com as cores da moda que logo desaparecem do mercado", diz a psicóloga carioca Vivian Elosta, 29 anos. Uma das primeiras a desbravar esse nicho, em 2008, a artista plástica mineira Camila Gomes, 29 anos ("Sacoleira, não - personal shopper"), conta com clientes de quem recebe encomendas: "Abasteço o guarda-roupa de muita gente de pequenas e médias cidades brasileiras. Quando a roupa chega lá, é uma festa".Negócios na internet
Como um grupo crescente de jovens usa o Orkut para revender
roupas e acessórios que comprou em lojas de grifes badaladas
Silvia RogarLeo Drumond/Nitro Margens altas, risco baixo
A mineira Naiara Boaventura: a advogada virou sacoleira
Os brasileiros estão descortinando uma aplicação original, e já rentável, para as redes sociais na internet: nelas, começa a florescer um circuito de bazares que vendem, a preço de liquidação, roupas de grifes jovens que já se esgotaram nas lojas. Só no Orkut, nada menos que 1 500 perfis foram criados, nos últimos seis meses, com o único propósito de comercializar tais peças. O grupo ganhou até apelido: são as sacoleiras da rede - gente que, em geral, não passa dos 30, já almejava abrir uma butique e é dada a comunidades virtuais. Para essas pessoas, as redes sociais não constituem apenas uma vitrine: também ajudam a entender quais são os objetos de desejo do momento. As sacoleiras se aproveitam do fato de que muitas marcas têm como praxe divulgar fotos da nova coleção antes do lançamento - material que submetem ao crivo da clientela potencial, reunida em torno daquelas comunidades cujo assunto número 1 (e 2) é moda. Em dia de estreia de coleção, quando madrugam em frente às lojas com disposição para arrematar roupas às dezenas, as sacoleiras virtuais já sabem exatamente em quais araras mirar. Resume a advogada mineira Naiara Boa-ventura, 29 anos, que há seis meses não faz outra coisa senão vender roupas na rede: "É um negócio de risco baixo, margens elevadas e que só cresce".Brunet Arnaud/Gamma Em busca de exclusividade
O conceito da edição limitada originou-se no alto luxo
As sacoleiras vão, em certo grau, se profissionalizando. Elas próprias organizaram uma espécie de Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), em que figuram os vendedores e compradores caloteiros. A mercadoria segue sempre pelo correio. Num mês bom, dá para tirar até 20.000 reais. A margem de lucro das sacoleiras gira em torno dos 20%, mas, dependendo da cobiça despertada por um acessório, pode subir para 60%. Quanto mais difícil de encontrar no mercado, mais valiosa será a peça. Os anúncios que as donas dos bazares enviam às frequentadoras de comunidades de moda tentam justamente enfatizar o conceito de exclusividade. Diz um deles: "Meninas, atenção: tenho raridades".Brunet Arnaud/Gamma De esmaltes a sandálias
A carioca Vivian Elosta: vendas a jato
Se os bazares, que se iniciaram com vendas ocasionais de roupas usadas, já ganham um caráter de atividade comercial permanente, deveriam ser registrados e recolher impostos, coisa que ainda não fazem. Explica a advogada Patricia Peck, especialista em direito digital: "Quando a renda proveniente do negócio passa a ser constante, é preciso formalizá-lo". Algumas das lojas que mais atraem as sacoleiras já cogitaram até processá-las, mas voltaram atrás. "Concluí que o boca a boca da internet é um marketing eficiente e barato para nós", diz Marcello Bastos, um dos donos da Farm, que figura entre as marcas mais vendidas no circuito dos bazares virtuais. A única medida tomada por ele na tentativa de inibir um pouco a ação das sacoleiras foi restringir a venda de certos itens a não mais que uma ou duas unidades. As redes sociais também têm provido informação valiosa à sua loja e a outras marcas, um banco de dados do qual ninguém mais quer prescindir. "Tomamos a decisão de relançar uma sandália, assinada por um designer, só porque soubemos que estava todo mundo louco atrás dela na rede", diz Raquel Scherer, à frente da área de marketing da Melissa. Nesse episódio, as sacoleiras da rede, que tinham estoque da mercadoria em casa, fizeram a festa: um par de 70 reais estava saindo, pasme-se, por nada menos que 450 reais.