Saturday, March 06, 2010

Arruda no tempo em que reinava


O governador do DF vai continuar preso enquanto
o processo de impeachment caminha e as investigações detalham
como funcionava seu reino de corrupção, nepotismo e fisiologismo


Gustavo Ribeiro

Ana Araujo
NO TRONO, SEM REALEZA
José Roberto Arruda antes da prisão, em seu antigo gabinete:
de moderno mesmo, só os móveis


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Uma saleta de 10 metros quadrados na Superintendência da Polícia Federal em Brasília, com nada mais que um beliche, um pequeno sofá de dois lugares e uma mesa, continuará sendo o endereço do governador afastado do Distrito Federal, José Roberto Arruda, preso há três semanas. Na última quinta-feira, o Supremo Tribunal Federal (STF) indeferiu o pedido de habeas corpus da defesa do governador, por ainda considerá-lo uma ameaça às investigações do mensalão de Brasília. Para nove ministros do STF, a tentativa de subornar uma testemunha é evidência de que, uma vez em liberdade, Arruda continuará a perpetrar esforços para impedir o trabalho da Justiça. Apenas o ministro José Antonio Dias Toffoli votou a favor do governador afastado. Na esfera política, Arruda sofreu outro golpe. A Câmara Legislativa do DF aprovou por unanimidade o pedido de impeachment. O governador terá vinte dias para apresentar sua defesa, mas dificilmente o relatório final vai poupá-lo do processo de cassação.

Em três anos de governo, Arruda construiu uma imagem de administrador austero. Chegou ao poder com o discurso de empregar um choque de gestão, anunciando a extinção de 16 000 cargos comissionados. Era, sabe-se agora, um clássico cavalo de troia. À medida que as investigações avançam, fica mais evidente a distância que havia entre o discurso do governador e a prática. Uma lista apreendida pela Polícia Federal revelou que Arruda usava e abusava dos métodos ortodoxos empregados pela politicagem tradicional. Nela aparecem nomes de amigos ao lado da cota de cargos que cada um tinha para distribuir. São impressionantes 4 500 empregos, que iam das funções mais subalternas à direção de estatais. O fracionamento do estado entre os aliados do governador preso beneficiava empresários, presidentes de partido, senadores, deputados federais e dezenove dos 24 deputados distritais, incluindo seus suplentes. As cotas variavam de três a oitenta cargos per capita.

É por essas e outras razões que começa a nascer em Brasília uma mobilização contra a intervenção federal solicitada pela Procuradoria-Geral da República. O movimento conta com o apoio de setores que sabem – e temem – o que ainda está por vir. Um dos investigadores do caso disse a VEJA que a caixa de Pandora brasiliense vai extrapolar as fronteiras da capital e o esquema de corrupção deve respingar em políticos importantes de outras cidades. Por isso, o melhor para a turma que saqueou o DF é lutar para preservar o controle da situação, cuja principal estratégia é manter na proa o atual governador em exercício, Wilson Lima (oitenta cargos). Como resume o deputado federal Bispo Rodovalho (trinta cargos): "A regra agora é lutar pela própria sobrevivência".

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