Friday, February 12, 2010

Google: uma banda larga ultrarrápida na internet

Mais rápido que o flash

O Google anuncia a construção de uma rede de banda larga ultrarrápida, 500 vezes mais veloz que a conexão usada no Brasil. Com a investida, a empresa tenta assumir a liderança na corrida pela internet do futuro


Benedito Sverberi e Renata


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Começa a ficar repetitivo. Na semana passada, o Google anunciou, outra vez, o lançamento de mais um produto que promete transformar a indústria de tecnologia: uma conexão de internet ultrarrápida. A proposta é oferecer uma rede de banda larga cuja velocidade de transmissão de dados seja de 1 gigabit por segundo (Gbps) – 100 vezes a velocidade das conexões por fibra óptica existentes hoje nos Estados Unidos e 500 vezes a velocidade com que os brasileiros navegam na internet. A princípio, a novidade será experimental e beneficiará um pequeno número de cidades. "Planejamos disponibilizar o serviço a um preço competitivo a até 500.000 pessoas e empresas", afirmou James Kelly, coordenador do projeto no Google. Esse promete ser o primeiro grande passo da companhia fora do mundo virtual. Até então, a maioria dos avanços do Google ocorreu diretamente no campo dos programas para computador e serviços on-line.

Desde 2005, o Google já investia em fibras ópticas para interligar seus servidores, tornando as buscas mais rápidas e diminuindo os custos de transmissão de seus vídeos do YouTube. Nos últimos anos, porém, o volume de aquisições desse tipo de cabo pela empresa foi tão grande que provocou uma série de especulações sobre suas reais intenções. Com o anúncio, ficou claro que o plano era sair das próprias instalações para fazer o circuito completo de transferência de dados, alcançando a chamada "última milha", ou seja, a casa das pessoas. A banda larga que o Google pretende criar – e que poderá lhe custar até 1,6 bilhão de dólares em investimentos – poderá transformar em realidade algo que agora parece reservado aos filmes de ficção científica. Será possível, por exemplo, a um arquiteto alemão transmitir pela internet, em tempo real, imagens de uma maquete em três dimensões ao seu cliente no Japão. Outra vantagem será baixar em instantes arquivos que hoje requerem horas para ser abertos, mesmo em países que lideram o ranking de banda larga. É o caso do download de um filme de longa-metragem em alta definição. Na Coreia do Sul, que atualmente tem a internet mais rápida do mundo, isso se faz em cerca de quatro horas. No Brasil, são necessárias 49 horas (ou mais de dois dias) para completar essa tarefa.

O investimento é uma tentativa de solucionar um problema real: o risco de um congestionamento na rede mundial de computadores. Um estudo recente da consultoria americana Nemertes Research mostra que até 2014 a infraestrutura de acesso à internet que as empresas planejam criar não atenderá mais à demanda. Não só a escassez de grandes investimentos das empresas de telecomunicações estimulou o Google a focar nessa nova área. Pesou ainda o fato de o governo americano ter anunciado um plano extremamente tímido para expandir as redes de banda larga. Enquanto o presidente Barack Obama prometeu gastar 7,2 bilhões de dólares na área, a estimativa da agência reguladora do setor (a Comissão Federal de Comunicações) é que seria necessário um aporte de até 350 bilhões de dólares.

Outros países também investem para liderar nessa área. O governo neozelandês anunciou no ano passado um projeto que prevê a instalação de fibras ópticas que levarão internet ultrarrápida a 75% da população até 2020. Existem projetos semelhantes no Japão e na Inglaterra. Portanto, se o Google tem a intenção de ser referência em tecnologia, ele não pode correr o risco de que os Estados Unidos – sua sede e seu principal mercado – fiquem para trás na corrida da banda larga, que constitui a base para o avanço dos serviços de internet. "É só uma questão de tempo para que todos invistam com força nessa tecnologia", afirma Eduardo Tude, da consultoria Teleco. "A internet do futuro exigirá conexões mais velozes."

A intenção do gigante americano de estimular o desenvolvimento de super-redes é, acima de tudo, promover ao máximo o uso das ferramentas on-line. Isso tem ligação direta com o modelo de negócio do Google, em que o faturamento é resultado do número de acessos nas páginas da internet. As experiências bem-sucedidas da Apple e da Amazon indicam que, para atrair usuários e fazer com que fiquem mais tempo na web, as companhias precisam atuar em várias frentes, de venda de aplicativos a aparelhos matadores, como um iPhone ou Kindle. Com a novidade, o Google mostra estar no mesmo caminho de inovação e atuação diversificada de suas rivais. Tudo o que o gigante não quer é seguir a trajetória trilhada pela Microsoft até agora. Por mais que tente, a empresa de Bill Gates não conseguiu criar produtos que atingissem a mesma popularidade do Windows e do pacote Office – ambos lançados na década de 80. Considerando os últimos passos do Google, mais rápidos que os do super-herói Flash dos quadrinhos, a probabilidade de ele comer poeira é pequena.

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