Saturday, January 30, 2010

A hipertensão de Lula

Suor, sufoco e susto

Ao tentar conciliar a agenda presidencial com a pré-campanha de Dilma Rousseff, Lula sucumbe ao stress e é internado às pressas com uma crise de hipertensão – mal que acomete 30 milhões de brasileiros

Fotos Hans Von Manteuffel/Ag. o Globo e Guga Matos/Jc Imagem
Poucas palavras
No discurso de inauguração de um posto de saúde em Paulista, no Grande Recife, na tarde de quarta-feira, Lula disse que falaria pouco. Ele já manifestava os primeiros sinais de pressão alta

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A internação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na semana passada, no Real Hospital Português de Beneficência, no Recife, é reveladora de como é fácil superestimar nossos limites físicos e emocionais e subestimar os sinais de alerta emitidos pelo organismo. Menos de vinte dias depois de terminadas as férias de verão, a crise de hipertensão experimentada por Lula está associada ao stress. O ritmo alucinante empreendido pelo presidente logo que voltou das férias contraria o que a maioria dos médicos recomenda nesses casos. O mais correto é começar a embalar um pouco na última semana de férias e ir com calma na retomada do expediente. Calma e Lula não costumam andar juntos. O presidente reentrou na arena administrativa e eleitoral como quem embarca em um automóvel a 100 quilômetros por hora. A cabeça comandou, mas o corpo não obedeceu e reagiu emitindo sinais bioquímicos característicos. A cadeia de reações do organismo nesses casos já é um clássico da medicina. Em resposta ao stress, o organismo acelera a produção de certas substâncias que aumentam o batimento cardíaco, a pressão arterial, a taxa de açúcar no sangue e deprimem o sistema imunológico. A pessoa sente-se cansada, fica mais irritável e parece estar com uma gripe encruada, daquelas que não pioram, mas também não vão embora. "Ele está claramente tenso, cansado. É visível a mudança em seu humor neste início de ano", diz um ministro próximo de Lula. O único que parecia não notar os sinais (evidentes) do desgaste era o próprio presidente.

O organismo de Lula, como se viu, não quis nem saber das urgências eleitorais do político Lula – a mais aguda delas a viabilização da candidatura presidencial de Dilma Rousseff, ministra-chefe da Casa Civil. Ao mesmo tempo o político Lula deu uma banana para o organismo com a mesma ênfase que peitou o Tribunal de Contas da União (TCU) (veja o quadro abaixo).

Em ritmo de campanha, o presidente tem se alimentado mal, dormido pouco, feito ainda menos exercícios físicos e fumado muito. Desde a volta do descanso com a família na Praia de Aratu, na Bahia, e no Guarujá, em São Paulo, no último dia 11, Lula já percorreu mais de 18 000 quilômetros pelo Brasil ao lado de Dilma. Nos dezessete dias de trabalho no ano, o presidente participou de 29 eventos públicos fora da capital e esteve em quinze cidades. Suas jornadas de trabalho chegavam até a quinze horas diárias.

Lúcio Távora/ag. A Tarde
Na Bahia
Lula durante as últimas férias de verão: ele voltou rápido demais

O mal-estar que culminaria com uma pressão arterial assustadoramente alta, em 18 por 12 (bem acima dos 11 por 7 que Lula costuma apresentar), começou na madrugada de quarta-feira, na volta do Fórum Social Mundial, em Porto Alegre. No voo para Brasília, o presidente reclamou de cansaço e indisposição. Era 1 hora da madrugada. Depois da queixa, Lula não dormiu nem cinco horas e já estava em seu gabinete para uma reunião com assessores. Por volta das 10 da manhã, gravou a propaganda de televisão do PT, ao lado de Dilma, de ministros e parlamentares do partido. Do estúdio, foi direto para a base aérea, onde, ao meio-dia, embarcou rumo ao Recife. "Assim que entrou no avião, chamou o médico da comitiva", revela um assessor que acompanhava o presidente. Ele se mostrava esgotado e sua cabeça doía. A sinusite aparentemente controlada desde 2005, com a cirurgia para retirada de pólipos nasais, parecia ter voltado a incomodar. O coronel-médico Cleber Ferreira, que acompanha Lula há cinco anos, recomendou nebulização, para desobstrução das vias respiratórias. Sentado sozinho, com as pernas estendidas, Lula fez a inalação durante todo o voo. Nos compromissos na capital pernambucana, estava abatido. Queixou-se de falta de fôlego, calafrios e palpitações. Pensou-se em gripe, mas um dos exames realizados mais tarde no Real Hospital Português de Beneficência mostraria que no sangue de Lula não havia vestígio de nenhum tipo de infecção por vírus. O mal-estar do presidente apresentava então a forma característica da reação corporal ao stress. Lula continuou no mesmo ritmo.

Apesar do quadro de extrema indisposição, não cancelou nenhum compromisso de uma intensa e longa agenda no Recife. Sob um calor ao redor dos 40 graus, entrando e saindo de ambientes refrigerados, o presidente inaugurou um posto de saúde, visitou a sinagoga mais antiga do Brasil, onde prestou homenagem às vítimas do Holocausto, participou de um coquetel no Palácio do Campo das Princesas com políticos do PSB e jantou com o governador Eduardo Campos. O abatimento era tão grande que, no posto de saúde, o falador Lula disse que seria breve em seu discurso porque estava com dor de garganta. Na sinagoga, ele simplesmente não discursou e era evidente sua dificuldade para respirar. No jantar, por volta das 21h30, o presidente, ainda muito ofegante, bocejava constantemente. Antes da sobremesa, pediu desculpas e saiu – não para descansar, mas para pegar o avião presidencial que o levaria a Davos, na Suíça, onde receberia o prêmio de estadista do ano concedido pelo Fórum Econômico Mundial. Ao chegar à base aérea do Recife, o avião ainda não estava abastecido, mas Lula pediu para subir. Queria "esticar as pernas". Logo depois de entrar, chamou o coronel-médico Cleber Ferreira e disse que não se sentia bem. Lula suava frio, apresentava taquicardia e respirar exigia esforço extra. Ferreira constatou que a pressão arterial do presidente estava em 18 por 12, valores anormais altíssimos que exigem tratamento imediato. Lula, porém, insistia em seguir viagem. Ferreira usou de suas prerrogativas de médico do presidente da República e não apenas do homem Lula e tomou a decisão mais segura. "O doutor Ferreira deixou bem claros os riscos a que o presidente se submeteria se passasse mais de oito horas respirando o ar rarefeito da cabine do avião, sem acesso a hospitais em plena crise de hipertensão", contou a VEJA um assessor que testemunhou o diálogo. Continua ele: "O médico foi firme o suficiente para convencê-lo a se internar".

Quando o presidente chegou ao Real Hospital Português de Beneficência, no início da madrugada, ofereceram-lhe uma cadeira de rodas, mas ele recusou. Foi caminhando para o local dos exames. A imagem divulgada na internet de Lula em uma cadeira de rodas foi feita no momento em que, seguindo as exigências do hospital, o presidente deixava a sala de exames clínicos e seguia para a realização de uma tomografia de tórax e abdômen. No elevador, Lula disse aos médicos que estava se sentindo exausto e sem ar. "Nunca me senti tão cansado", disse o presidente, arfando. Os médicos comentaram que ele deveria se cuidar mais – alimentar-se melhor, fazer ginástica, abandonar o tabagismo e diminuir o ritmo de trabalho. Ao que Lula respondeu: "Não tenho como parar: o Zé (José Alencar, vice-presidente) adoe-ceu, a Dilma adoeceu... Eu não posso parar". Na sexta-feira, o presidente insistia em comparecer a um evento promovido pela Igreja Mundial do Poder de Deus, no sábado, em São Bernardo do Campo.

Os resultados dos exames de sangue, raios X e tomografia saíram depois de uma hora e meia. Todos estavam dentro da normalidade. O cirurgião pernambucano Cláudio Amaro Gomes, responsável pela internação de Lula, receitou um coquetel de anti-hipertensivos orais e inalações com soro fisiológico misturado a um remédio broncodilatador. Não havia nada mais a ser feito, além de recomendar ao presidente que tivesse uma vida mais regrada. Seu mal é stress, reafirmam todos os médicos que o atenderam até sexta-feira.

Eles são peremptórios ao dizer que Lula foi vítima de uma crise isolada de hipertensão. Sua pressão normalmente gira em torno de 11 por 7, que é boa acima da média para um homem com 64 anos. Em 90% das vezes, os episódios hipertensivos estão associados a um alto nível de sobrecarga física e emocional. Em tais situações, o cérebro repentinamente estimula as glândulas suprarrenais a aumentar a produção dos hormônios adrenalina, noradrenalina e cortisol. Os dois primeiros elevam os batimentos do coração e a contração dos vasos sanguíneos. Combinados, tais fenômenos fazem a pressão arterial subir. O cortisol atua de outro modo: causa retenção de água e sal no organismo, o que também tem efeito hipertensivo. Noites maldormidas, alimentação deficiente, falta de atividade física e nervosismo aceleram os ponteiros da bomba-relógio que desencadeia a pressão alta. "Uma pessoa que apresenta uma crise dessas não está condenada automaticamente a desenvolver hipertensão crônica", diz o nefrologista Décio Mion, chefe da Unidade de Hipertensão do Hospital das Clínicas de São Paulo. Para que escape dessa sina, no entanto, é necessário que o paciente controle os fatores de risco. Se os maus hábitos persistem, podem provocar um aumento progressivo da pressão arterial que se traduz em doença crônica. "Há ainda a possibilidade de que as crises hipertensivas se tornem recorrentes", diz Décio Mion. O risco é maior em pessoas cujos vasos sanguíneos já sofreram alterações sérias como estreitamento, endurecimento ou dilatação. Em um quadro assim, as elevações bruscas podem culminar em infarto ou derrame.

Embora possa ter origem genética, a pressão alta é um distúrbio decorrente, sobretudo, dos maus hábitos da vida moderna. Com uma agravante: muitos de seus fatores de risco pioram uns aos outros. O stress e a privação de sono, por exemplo: quem vive estressado dorme mal e quem dorme mal vive sob constante stress. Dormir pouco aumenta em cinco vezes a probabilidade de um quadro de pressão alta, porque a privação de sono provoca um aumento extraordinário na produção de cortisol, adrenalina e noradrenalina, hormônios de ação vasoconstritora. Bastam cinco noites dormindo por apenas quatro horas e meia para que a capacidade de dilatação dos vasos sanguíneos seja reduzida em até 50%. "Enquanto dormimos, a pressão arterial cai entre 10% e 20%. Essa redução funciona como um mecanismo restaurador", diz o cardiologista Marcus Malachias, do departamento de hipertensão da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Quando o sono é insuficiente, porém, o paciente já pode acordar com a pressão alta. "Essa é uma das explicações para que a maior parte dos infartos se dê entre as 6 horas da manhã e o meio-dia", diz o cardiologista Carlos Alberto Pastore, do Instituto do Coração, o Incor, de São Paulo. Há, ainda, um fenômeno bastante comum conhecido como hipertensão noturna. A apneia obstrutiva do sono é sua principal causa. Portadores do distúrbio costumam engasgar e sofrer microdespertares durante a noite. "Essas interrupções fazem com que os níveis de oxigênio no sangue oscilem, levando ao aumento da pressão arterial", diz o pneumologista Geraldo Lorenzi Filho, diretor do Laboratório do Sono do Incor.

A hipertensão é uma doença complexa, desencadeada por uma dezena de processos fisiológicos. Raramente está associada a uma única causa. "Quando os sintomas aparecem na sua forma crônica, é normal que um órgão já esteja comprometido", explica o cardiologista Robinson Poffo, do Hospital Albert Einstein, de São Paulo. Os sinais podem ser dor de cabeça e pescoço, fadiga, confusão mental, tontura, náusea, problemas de visão, dor no peito, cansaço e, eventualmente, arritmias. A pressão é considerada alta quando é igual ou maior do que 14 por 9. Isso significa que a força do fluxo de sangue contra a parede das artérias está acima do normal(veja o quadro). Com as artérias lesionadas, está aberto o caminho para o depósito de gorduras que causam infarto ou para a ruptura da parede dos vasos, o que resulta em derrame. A hipertensão é responsável por 40% dos casos de morte por derrame e 25% dos óbitos por infarto. A pressão tida como ideal é 12 por 8, embora haja uma recomendação da Associação Americana do Coração para que esse parâmetro baixe para 11 por 7.

Embora apenas metade dos 30 milhões de brasileiros hipertensos saiba que está doente, o mal da pressão alta não é mais tão "silencioso" quanto já foi num passado recente. A hipertensão só começou a ser investigada como doença no início dos anos 50, quando as companhias de seguro americanas passaram a associar o distúrbio ao grande número de pacientes mortos. Hoje, a medição da pressão arterial é obrigatória em qualquer consulta médica (se o seu médico não o fizer, cobre-o! Ou, então, mude de profissional). O arsenal químico desenvolvido contra a doença é poderoso. De remédios diuréticos, que passaram a ser usados contra o mal na década de 60, ao Diovan, o anti-hipertensivo mais receitado no mundo, há várias e eficientes opções de tratamento. Muitos pacientes, no entanto, não seguem as prescrições ou abandonam a medicação de uma hora para outra, caso de quatro em cada dez deles. O risco do descaso, obviamente, é grande.

Guga Matos/Jc Imagem/AE
Pressão sob controle
Com 12 por 8 de pressão arterial, Lula recebeu alta do Real Hospital Português de Beneficência, no Recife. Durante a crise hipertensiva, foi acompanhado pelo coronel-médico Cleber Ferreira (à dir.)

Em relação ao problema, um dos aspectos que mais preocupam os médicos é o aumento de peso da população brasileira e o incremento do consumo de comidas industrializadas, ricas em sal. O sobrepeso e o excesso de sal na dieta estão entre os maiores vilões que propiciam o aparecimento da pressão alta. O consumo nacional per capita de sal chega a absurdos 12 gramas diários. De acordo com o estabelecido pela Organização Mundial de Saúde (OMS), essa quantidade não deveria ultrapassar os 2 gramas. Sal em excesso retém líquido e, consequentemente, aumenta o volume de sangue nas artérias. Com isso, a pressão sobe. Sabe-se que o presidente Lula gosta muito de usar o saleiro. Domar o stress é igualmente vital, mas é difícil para todo mundo superar as agendas atribuladas e expedientes cada vez mais longos. "Políticos como Lula, em especial, enfrentam muitas situações de stress, e esse é um dos gatilhos da hipertensão", diz o cardiologista Nabil Ghorayeb, da Sociedade Brasileira de Cardiologia. "Só neste ano atendi quatro deputados que estão se preparando para a campanha eleitoral. É uma maratona de visitas a três, quatro cidades por dia, onde são instruídos a comer e beber tudo o que oferecem." Por causa da agitação febril da vida moderna, ele recomenda check-ups anuais a quem tem mais de 30 anos.

Hélvio Romero/AE
De volta para casa
Lula chegou a São Paulo no final da manhã de quinta-feira e foi recebido
por seu médico particular, o cardiologista Roberto Kalil

Ao desembarcar em São Paulo, na manhã de quinta-feira, Lula ainda tentou postergar os exames exigidos por seu médico particular, o cardiologista Roberto Kalil. Nessa queda de braço, o vencedor foi Kalil. No sábado 30, o presidente seria submetido no Instituto do Coração, em São Paulo, a novos exames de sangue, a uma análise da função pulmonar e a uma tomografia do coração. A previsão era que os resultados seriam normais. Havia um ano e meio que Lula não passava por um check-up. Nos últimos meses, engordou muito, sobretudo nas férias, e atualmente está com, pelo menos, 14 quilos a mais do que o recomendável. A balança aponta 83 quilos (mal) distribuídos por 1,67 metro. Em detrimento de sua saúde, o presidente tem se empenhado ao extremo em transformar Dilma Rousseff em seu clone político. Para isso, montou uma agenda intensiva de viagens pelo país, a fim de colar a imagem da candidata à sua e, assim, tentar fazer com que ela herde a sua popularidade recorde e vença as eleições de outubro. O governo acredita que, para a estratégia funcionar, o ponto de fusão da imagem do presidente com a da ministra Dilma Rousseff precisa atingir níveis razoáveis já em abril. É um desafio que, oficialmente, nem sequer começou – e estressante, como demonstra o pico de pressão arterial de Lula. Para os brasileiros adultos, o incidente de saúde do presidente funciona como um alerta a que fiquem atentos aos sinais de stress e tenham sempre a pressão arterial nos padrões ótimos. Com essa eleição, todos ganham.

Com reportagem de Daniela Macedo, Gabriella Sandoval, Leonardo Coutinho, Naiara Magalhães e Otávio Cabral


Às favas o Tribunal de Contas

Gustavo Ribeiro

Oscar Cabral

A dupla jornada de trabalho como chefe do Executivo e cabo eleitoral da ministra Dilma Rousseff levou o presidente Lula a se envolver em conflito delicado e preocupante. Na semana passada, o presidente atropelou o Tribunal de Contas da União (TCU) e o Congresso Nacional ao autorizar repasses de 13 bilhões de reais a quatro obras da Petrobras paralisadas por irregularidades graves, como superfaturamento. Lula simplesmente decidiu ignorar o trabalho dos fiscais, alegando que a paralisação causaria a demissão de 25 000 trabalhadores e um prejuízo de 268 milhões de reais mensais, atrasando ainda mais o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). É um argumento tosco até em sua aparência. A canetada do presidente autoriza repasses às obras das refinarias Abreu e Lima, em Pernambuco, e Presidente Getúlio Vargas, no Paraná, além de um complexo petroquímico no Rio de Janeiro e um porto no Espírito Santo – todas em estados alinhados politicamente com o governo e, portanto, potenciais celeiros eleitorais da ministra Dilma. O espanto, porém, não se limitou ao mundo político e pode render uma dor de cabeça a mais a Lula.

"É uma atitude equivocada sob todos os aspectos da gestão pública. Se ocorrerem repasses, vou abrir processo contra os responsáveis, ainda que entre eles esteja o presidente da República", diz o procurador do Ministério Público junto ao TCU, Marinus Marsico. Os trâmites de uma eventual batalha na Justiça ainda são desconhecidos, dado o ineditismo do caso. "Vamos estudar essa questão a fundo. Nunca pensei que isso pudesse acontecer", espantou-se o procurador. Não faltaram sinais. Antes de atropelar o TCU, Lula já havia apontado a patrola do governo na direção do órgão. Não é de agora que o presidente tenta desmerecer o trabalho dos fiscais e responsabilizar o tribunal pelo atraso das obras do PAC. Ele chegou até a cogitar a possibilidade de criação de um órgão, subordinado ao governo, para supervisionar as fiscalizações. A ofensiva federal contra uma das poucas instituições capazes de descobrir e coibir grandes maracutaias com dinheiro público ainda não inviabilizou por completo o trabalho do TCU, mas já produz efeitos danosos. Até hoje, sempre que votava o orçamento do ano seguinte, o Congresso costumava acatar nove em cada dez recomendações do tribunal para paralisar repasses a obras suspeitas. Isso certamente impediu que algumas centenas de milhões de reais virassem fumaça. No fim do ano passado, porém, apenas metade das recomendações foi acolhida – decisão que só faz bem a empreiteiros desonestos e políticos que parasitam esse ecossistema.



A saúde dos poderosos

R. Stuckert/EBN

João Baptista Figueiredo (1918-1999)

O último general a ocupar a Presidência era portador de uma insuficiência coronariana. Mesmo sabendo que convivia com o entupimento de várias artérias, desobedecia às recomendações médicas e fumava diariamente dois maços de cigarro. Em 1981, sofreu um infarto do miocárdio durante uma visita ao Rio de Janeiro


Corbis/Latinstock
Ronald Reagan (1911-2004)
O ex-presidente americano foi acometido por dois tipos de câncer durante os mandatos, de 1981 a 1989. A primeira cirurgia, em 1985, removeu pólipos malignos do intestino. Naquele mesmo ano, uma forma não agressiva de câncer de pele o levou a fazer uma cirurgia nasal. Dois anos depois, ele se submeteu novamente a uma remoção de células cancerosas no nariz


Gervasio Baptista/EBN
Tancredo Neves (1910-1985)
Eleito pelo Congresso em janeiro de 1985, o mineiro de 75 anos foi hospitalizado na véspera da posse e não chegou a ocupar a Presidência. Internado com fortes dores abdominais, causadas por diverticulite, Tancredo sofreu sete cirurgias e morreu depois de 38 dias no hospital, em decorrência de uma infecção generalizada


Sipa Press
Nicolas Sarkozy (1955)
Em julho do ano passado, o presidente francês, então com 54 anos, sentiu-se mal durante uma corrida em Versalhes. Ele foi levado ao hospital e passou vinte horas internado para a realização de exames. Segundo os médicos, o mal-estar foi causado pelo calor e por excesso de trabalho


José Luis da Conceição/AE
José Alencar (1931)
O vice-presidente trava, há quatro anos, uma heroica batalha contra um sarcoma, uma forma agressiva de câncer, na região do abdômen. Foram, até agora, onze tratamentos quimioterápicos e radioterápicos para tentar controlar a doença. Desde 1997, Alencar já foi submetido a quinze cirurgias: além dos nódulos abdominais, eliminou tumores do rim, do estômago e da próstata


Antonio Milena/AE
Dilma Rousseff (1947)
Em abril do ano passado, a ministra da Casa Civil recebeu o diagnóstico de linfoma. Para se livrar do tumor maligno na axila esquerda, Dilma passou por uma cirurgia e realizou quatro sessões de quimioterapia e vinte de radioterapia. Atualmente, a candidata à Presidência encontra-se em remissão

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