Saturday, January 16, 2010

As surpreendentes terceiras camisas dos clubes

Esporte

Corintianos roxos,...

...palmeirenses azuis, colorados de dourado, preto fashion
na Lusa. Quando se trata da terceira camisa dos times,
o importante é surpreender – e vender

Fotos Caio Guatelli /Folha Imagem e Pedro Rubens
COMO MEXER EM TIME QUE ESTÁ GANHANDO
No Corinthians do jogador Elias (à esq.), o roxo recebeu vaias, mas bateu recorde de vendas.
No mesmo esquema tático jogam (da esq. para a dir.) as camisas 3 da Portuguesa, em preto
com a cruz metaleira, o azul em tons dégradés do Cruzeiro, o Internacional de dourado
em vez de vermelho, e o verde Palmeiras de azul


Toda vez que dois times que vão se enfrentar usam uniformes parecidos, do tipo capaz de confundir o espectador, dita a lei do futebol que um deles entre em campo com o uniforme reserva, criado especialmente para esse fim. Assunto encerrado? De jeito nenhum. Muitas equipes estão adotando o uso de uma terceira camisa, envergada esporadicamente, mas o suficiente para provocar arrepios nas torcidas mais ortodoxas. E para que exatamente ela existe? Para vender e render dinheiro para o clube, oras. Por isso mesmo, a camisa alternativíssima pode – e deve – destoar do tradicional, causar polêmica, virar assunto de intermináveis conversas. Assim, o Palmeiras, o tradicionalíssimo Verdão, vestiu em uns poucos jogos no ano passado uma camisa azul. Oficialmente, homenagem à cor da Itália; coincidentemente, a cor do logotipo do patrocinador. O alvinegro Corinthians foi pela terceira via com uma camisa toda roxa, criticadíssima, substituída depois por uma listrada de preto e roxo. O colorado Internacional também ousou: sua camisa 3 é dourada. A do azul Cruzeiro continua azul, mas em dégradé. Cada camiseta dessas chega a vender, em média, 150 000 peças por ano, a preços iguais ou até mais altos do que os 100 a 200 reais das duas cores tradicionais. "Ter uma terceira camisa faz uma grande diferença no faturamento tanto do clube quanto da marca esportiva que a produz", diz Fernando Costa, gestor de produtos do grupo que inclui as marcas Reebok e Olympikus.

É o fabricante de artigos esportivos que desenha e escolhe a cor das camisas. Ao clube, cabe aprovar ou não. "Ainda são poucos os exemplos de terceiras camisas inovadoras no Brasil. A torcida e os dirigentes aqui são conservadores. Na Europa, isso é feito com a maior tranquilidade. Eles entenderam que a ideia não é mexer na história do time, e sim criar novos capítulos", diz João Chueiri, gerente de marketing para futebol da Nike, que levou para a camisa 3 do Corinthians o roxo da paixão dos torcedores, sob as vaias de muitos. "Quando se mexe com a tradição de um clube centenário, sempre vai haver descontentes. Mas a roxa bateu recorde: nunca uma camisa do clube vendeu tanto em um fim de semana de lançamento", diz ele. Os corações corintianos podem se preparar que vêm mais novidades. Em 2010, ano do centenário, a terceira camisa do timão é inspirada em pinturas de guerreiros e em São Jorge, padroeiro do clube. E um santo muito fashion, dizem os especialistas no assunto.

Manu Fernandez /AP
ROSA SEM CHOQUE
Cores à europeia: no campeão
Barcelona, a camisa reserva (na foto)
é meio rosa-salmão, a número
3 é amarela e as duas
são fluorescentes


Na Europa, onde a terceira camisa foi inventada pelos ingleses, os times lançam uma versão nova a cada ano, como também fazem com os modelos 1 e 2 – este, aliás, igualmente sujeito a desvios de tonalidade. Inovações são esperadas, apreciadas e, claro, vendidas. O Barcelona, da Espanha, o atual campeão do mundo, quando não joga com o tradicional azul e vermelho, entra em campo, e faz bonito, ou com sua camisa reserva rosa-salmão, ou com a 3, amarelo-ovo, ambas fluorescentes ainda por cima. No Brasil, a moda tem tudo para progredir, até porque pôr o nome do time em produtos diversificados é uma fonte de renda cada vez mais importante nas periclitantes contabilidades futebolísticas e as camisas representam cerca de 80% das vendas nesse nicho. Até o Flamengo, cioso da gloriosa tradição rubro-negra, rendeu-se ao encanto das cores que não têm nada a ver com a sua: em fevereiro, lança uma camisa 3 azul e amarela, como nos tempos em que ainda era, acima de tudo, um clube de remo. "O tecido vinha da Inglaterra. Só quando, por questão de logística, se decidiu fazer o uniforme com tecido nacional, é que se usaram as cores do escudo, vermelho e preto, mais fáceis de ser encontradas aqui em quantidade", diz Fernando Costa. A Penalty ousou mais no ataque estilístico e fez parceria com uma marca de roupa jovem, a Cavalera, que assina a atual e a próxima terceira camisa para a verde e vermelha Portuguesa. A nova, que começa a ser vendida nesta semana, tem uma enorme e metaleira cruz de Avis, aquela com as pontas em formato de flor-de-lis. "Não existe regra. O tema, a cor, tudo pode mudar. O bom do uniforme 3 é ser sempre uma surpresa", teoriza Pedro Souza, gerente de futebol da Penalty. "É como um brinquedinho novo que chega a cada ano." Divirtam-se, torcedores.

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