Contra a parede
O STF processará o senador Eduardo Azeredo, do PSDB,
pelo "mensalão mineiro". A defesa do tucano é bem petista:
ele diz que nunca soube de nada
Celso Junior /AE |
"O RECIBO É FALSO" |
Apartir de agora, o senador Eduardo Azeredo, do PSDB de Minas Gerais, é réu. O Supremo Tribunal Federal (STF) abriu processo para apurar o envolvimento dele no escândalo conhecido como "mensalão mineiro". Azeredo será julgado pelos crimes de peculato (desvio de recursos cometido por um agente público) e lavagem de dinheiro. O caso que ameaça a carreira do senador se deu em 1998, quando ele governava Minas Gerais e se candidatou à reeleição. A campanha de Azeredo precisava de dinheiro. E ele foi obtido, em boa parte, graças a um esquema que desviava verbas de empresas estatais, "esquentava" os recursos simulando empréstimos bancários e, por fim, os injetava no caixa dois da campanha. O operador do trambique era um até então obscuro lobista chamado Marcos Valério – que se agigantaria seis anos depois, ao colocar-se a serviço do mensalão petista.
No caso mineiro, a investigação da Polícia Federal indica que 3,5 milhões de reais foram desviados de empresas estatais para a campanha de Azeredo. É, em menor escala, o que o PT fez no primeiro mandato do governo Lula. A diferença é que, pelo que se sabe até agora, em Minas todo o dinheiro desviado foi usado na campanha eleitoral. No mensalão federal, o butim serviu, também, para subornar deputados em troca de apoio político – e para engordar o nó da gravata da companheirada, claro. Essa distinção não diminui a gravidade do que ocorreu em Minas. Desvio de dinheiro público é crime – e precisa ser punido independentemente de credo político. Tucano ou petista, verde ou comunista, pouco importa.
Em sua defesa, Azeredo alegará que não sabia dos supostos crimes cometidos em sua campanha. De fato, não há na denúncia do Ministério Público nenhum documento que comprove de forma cabal sua ligação com o caixa dois. Ele foi denunciado porque era governador e candidato, ou seja: comandava as estatais que deram dinheiro à sua própria campanha. A alegação, no entanto, é frágil. É difícil acreditar que o maior beneficiário do esquema não soubesse o que acontecia debaixo de suas barbas. Para fortalecer a tese de que o tucano deveria ser processado, o ministro Joaquim Barbosa, relator do caso no STF, se apoiou em um recibo de 4,5 milhões de reais entregue à polícia por um informante. Ele mostraria que Azeredo recebeu essa bolada de Valério. O senador garante que o papel é falso. Uma perícia, também. Nem a polícia atesta a autenticidade do documento. É temeroso que um documento suspeito vá parar no STF e seja usado para formar juízo. O correto seria que o tribunal entregasse o recibo ao Ministério Público, para que fosse iniciada uma investigação que visasse a descobrir quem o produziu. O Brasil precisa se livrar da indústria de documentos e dossiês forjados. Em Minas Gerais, por exemplo, existe um lobista chamado Nilton Monteiro, a quem se atribui a produção de papéis apócrifos usados como munição em campanhas eleitorais. A tal "Lista de Furnas" está entre eles. Espera-se que, na próxima disputa, personagens desse tipo não continuem a agir nas sombras.