CARLOS ALBERTO SARDENBERG China verde
24/12/2009
O homem mais rico da China chama-se Wang Chuanfu.
Acumulou fortuna de US$ 5 bilhões, primeiro fazendo baterias e, de uns anos para cá, carros elétricos. Foi para este negócio que vendeu parte das ações para Warren Buffet, o investidor americano que caça oportunidades de longo prazo pelo mundo afora.
A segunda fortuna chinesa pertence a uma mulher, Zhang Yin. Seu negócio: reciclagem de papel. Importa as sobras e exporta os reciclados.
Não é interessante? A China, que já se tornou a maior emissora de gases poluentes do mundo e vem sendo acusada de rejeitar medidas que reduzam emissões, apresenta também “bilionários verdes”.
Claro, o fato de serem bilionários é o detalhe da história. O importante é notar que Chuanfu e Yin são a ponta de um iceberg, no qual se encontra intensa atividade voltada para uma economia de baixo carbono.
Ou seja, ao contrário do que parece, a China se move na direção da redução das emissões. A seu jeito.
A China não pode parar de crescer, nem pode crescer pouco. Como é uma ditadura, nunca se sabe bem o que se passa no coração do poder. Mas é amplamente reconhecida a tese que, para o governo chinês, qualquer crescimento abaixo de 8,5% ao ano gera inquietação e agitação social. Menos de 8,5% no PIB não criaria os empregos para milhões de pessoas que deixam o campo muito pobres pelas cidades progressistas e plenas de oportunidades.
Estimativas dizem que 350 milhões de chineses farão essa transição campocidade nas próximas décadas. É mais que a população dos EUA, é quase o dobro da brasileira. Imaginem: arrumar casa, emprego, transportes, comida, centros de compras e diversão para toda essa gente! Em duas décadas, o consumo de carne na China quadruplicou.
A compra de automóveis passa de 10 milhões neste ano, superando os EUA. E eles mal chegaram à classe média.
Alguns dizem: isso prova que os chineses não podem crescer esse tanto. Se eles (1,3 bilhão, e isso sem contar o bilhão de indianos) alcançarem um padrão de consumo próximo dos ricos dos EUA e da Europa, simplesmente não haverá comida para todos, sem contar que os carros deles vão destruir toda a atmosfera.
Seria como dizer aos chineses: sinto muito, mas vocês chegaram tarde na festa; o filé acabou, aceitam uma vagem? Como os chineses estão se virando? No que se refere à comida: o governo está comprando terras pelo mundo todo, mas especialmente na África, onde introduz modernas plantações, com alta tecnologia (incluindo genética e transgenia). No que se refere às emissões: de novo a tecnologia, para chegar à energia de baixo carbono.
Por isso que o governo chinês não topa colocar um regra de redução das emissões. Ele sabe que isso é impossível.
A China vai emitir mais para crescer.
O que eles topam é reduzir a tal “intensidade de carbono” — ou seja, emitir menos sujeira a cada ponto de crescimento econômico, o que depende de novas tecnologias, como os carros elétricos dos sócios Chuanfu e Buffet. O governo chinês acredita que chegará em breve aos dois milhões de carros elétricos.
Os chineses fazem muita coisa errada, a começar pela ditadura. Mas é preciso admitir que sua liderança, desde que conseguiu se livrar de Mao, mostrou visão estratégica e competência.
Não é por acaso que a China hoje integra o G-2, com os EUA.
Não é por acaso também que os dois estejam empenhados em um enorme esforço tecnológico em busca de energias mais limpas.
Ou seja, os chineses estão dizendo que haverá carne (ou algo parecido) se for possível colocar mais bois e vacas na mesma pastagem, se eles crescerem e forem abatidos mais rapidamente e se tomarem remédios para reduzir seus gases.
Também estão dizendo que mais um bilhão de carros a gasolina não vai dar.
Eles não são idiotas, sabem a poluição que já têm por lá. Mas se forem carros elétricos... ou a etanol... diríamos ou deveríamos nós estar dizendo por aqui.
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