Abaixo, reproduzo e traduzo a entrevista que Marco Aurélio Garcia, assessor especial do presidente Lula, concedeu ao jornal francês Le Figaro. Considero-a um dos maiores escândalos deste governo. Não, não é um daqueles a que já nos habituamos, não: um larápio comum, disfarçado de larápio socialista (isto é, de "larápio larárpio"), enfia a mão no dinheiro público, rouba descadamente, e tenta provar que é para o nosso bem. Trata-se de um outro tipo de escândalo, como vocês verão. Marco Aurélio, o Top Top Garcia, rouba-nos bem mais do que os cofres : ele nos rouba a vergonha na cara.
Segue em azul a entrevista em francês. Em preto, a traduçao. Volto depois :
LE FIGARO Quelle est la position du Brésil sur la tension à laquelle a conduit à la mort du numéro 2 des Farc, Raul Reyes ?
Marco Aurelio Garcia. Le Brésil condamne fermement l'attaque colombienne en territoire équatorien qui est avant tout une violation de la souveraineté territoriale. Nous invitons la Colombie à présenter ses excuses à l'Équateur. Parallèlement, le Brésil est prêt à tout pour tenter de faire baisser la tension dans la région, qui a atteint des niveaux inquiétants. Le président Lula va recevoir aujourd'hui son homologue équatorien Rafael Correa, et nous avons demandé la création d'une commission d'enquête au sein de l'Organisation des États américains (OEA).
LE FIGARO – Qual é posiçao do Brasil no conflito provocado pela morte do número 2 das Farc, Raúl Reyes ?
Marco Aurélio Garcia – O Brasil condena firmemente o ataque colombiano ao território equatoriano, que é, antes de mais nada, uma violação da soberania territorial. Nós exortamos a Colômbia a apresentar suas desculpas ao Equador. Paralelamente, o Brasil age para baixar a tensão na região, que atingiu níveis inquietantes. O presidente Lula vai receber hoje [ontem] o Presidente equatoriano, Rafael Correa, e nós vamos pedir a criação de uma comissão de investigação no âmbito da Organização dos Estados Americanos.
Quel est l'objectif de cette commission ?
L'invasion du territoire équatorien par des troupes colombiennes est un fait avéré, mais les présidents ont deux versions différentes. Alvaro Uribe prétend qu'il s'agit d'une action défensive, alors que selon Rafael Correa, les Farc ont été massacrés endormis dans le camp, et que l'assaut s'est déroulé uniquement sur le territoire équatorien. À la commission de démêler la réalité.
Qual é o objetivo dessa comissão ?
A invasão do território equatoriano por tropas colombianas é um fato demonstrável, mas os presidentes têm duas versões diferentes. Álvaro Uribe sustenta que se trata de uma ação defensiva; de acordo com Rafael Correa, as Farc foram massacradas enquanto dormiam no campo, e o ataque se deu unicamente em território equatoriano. Cabe à comissão mostrar a realidade.
Comment interprétez-vous l'envoi de troupes par le Venezuela et l'Équateur à la frontière de la Colombie ?
Il ne faut pas en exagérer l'ampleur. C'est avant tout un geste politique assez logique quand on considère qu'il y a eu une violation militaire de la part de la Colombie. Un conflit armé est toujours possible, mais ce n'est pas l'hypothèse dominante. Ce qui est sûr, c'est qu'il n'est bon pour personne que la Colombie soit isolée en Amérique du Sud. Or, le Brésil n'est pas le seul à avoir condamné son incursion militaire : la majorité des gouvernements de la région l'ont fait. Le maintien de cet isolement serait déplorable pour toute la région, alors que nous essayons justement de bâtir une union d'Amérique du Sud, l'Unasur. La prochaine réunion des chefs d'États devait avoir lieu à Cartagena, en Colombie, fin mars. Dans les conditions actuelles, cela me semble impossible.
Como o senhor interpreta o envio de tropas pela Venezuela e pelo Equador à fronteira com a Colômbia ?
Não é necessário exagerar a amplitude. É um gesto, antes de tudo, político, bastante lógico, quando se considera que há uma violação militar da parte da Colômbia. Um conflito armado é sempre possível, mas não é a hipótese dominante. O que é certo é que não é bom para ninguém que a Colômbia fique isolada na América do Sul. O Brasil não foi o único a condenar a incursão militar: a maioria dos governos da região o fez. A manutenção desse isolamento será deplorável para toda a região, quando nós tentamos justamente construir uma união da América do sul, a Unasur. A próxima reunião dos chefes de estado deve acontecer em Cartagena, na Colômbia, no fim de março. Nas condições atuais, ela me parece impossível.
Quel impact aura la mort de Raul Reyes sur la libération des otages ?
Dans un premier temps, j'étais très inquiet, mais les Farc ont dit que sa mort ne remettait pas en cause leur recherche d'un accord humanitaire. Techniquement, cela peut poser des problèmes : j'étais moi-même sur le terrain fin décembre quand les Farc ont retardé la première libération d'otages pour cause d'opération militaire de l'armée colombienne. Je vous rappelle que le Brésil a une position neutre sur les Farc : nous ne les qualifions ni de groupe terroriste ni de force belligérante. Les accuser de terrorisme ne sert à rien quand on veut négocier. La Colombie émet le désir de ne pas internationaliser son conflit avec les Farc, mais, dans les faits, il a déjà des retentissements internationaux. Il y a eu la médiation du président Hugo Chavez dans la libération des otages, la volonté déclarée de la France de s'y impliquer. À la fin de l'année dernière, le président Uribe a accepté la mise en place d'un groupe de pays amis, comprenant notamment le Brésil.
Que impacto terá a morte de Raúl Reyes para a libertação dos refèns ?
De imediato, fiquei bastante apreensivo, mas as Farc disseram que sua morte não criará obstáculos à busca de um acordo humanitário. Tecnicamente, ela [a morte] pode criar alguns problemas: eu mesmo estava no terreno [de batalha], no fim de dezembro, quando as Farc retardaram a primeira libertação de reféns por causa da operação militar das Forças Armadas colombianas. Eu lhes lembro que o Brasil tem uma posição neutra sobre as Farc: nós não as qualificamos nem de grupo terrorista nem de força beligerante. Acusá-las de terrorismo não serve pra nada quando a gente quer negociar. A Colômbia expressa o desejo de não querer internacionalizar seu conflito com as Farc, mas, de fato, ele já tem repercussão internacional. Há a mediação do presidente Hugo Chávez da liberação de reféns, a vontade declarada da França de se engajar. No fim do ano passado, o presidente Uribe aceitou a atuação de um grupo de países amigos, especialmente o Brasil.
La Colombie justifien son intervention militaire par des liens entre l'Équateur, le Venezuela et les Farc…
Pourquoi ces révélations sont-elles sorties aujourd'hui ? Si la Colombie les détient, elle ne les a pas toutes trouvées dans l'ordinateur de Raul Reyes ! Des deux côtés, nous sommes dans une guerre d'informations, et l'important c'est de baisser la tension. Mais le fait principal reste la violation, par la Colombie, de la souveraineté territoriale d'un pays. Ce sont des méthodes qu'on ne peut pas admettre. Sinon, ce serait vraiment la porte ouverte à des conflits armés.
A Colômbia justifica a sua intervenção militar com as ligações entre o Equador, a Venezuela e as Farc...
Por que essas revelações aparecem agora ? Se a Colômbia as detinha, elas não foram todas encontradas no computador de Raúl Reyes. De ambos os lados, nós estamos numa guerra de informações, e o importante é baixar a tensão. Mas o fato principal é a violação, pela Colômbia, da soberania territorial de um país. São métodos que a gente não pode admitir. Caso contrário, será, de fato, a porta aberta a conflitos armados.
Voltei
É preciso lembrar quem é Marco Aurélio Garcia. Sim, senhores! Na mosca! Ele é um dos pais do Foro de São Paulo. Delinqüentes a soldo disfarçados de jornalistas afirmam que não se deve superestimar a importância do "Desaforo de São Paulo". Claro que não! Deve-se dar à organização apenas a importância que ele tem: partidos de esquerda e de extrema esquerda, incluindo as Farc, estão no grupo para defender uma agenda coletiva. A política externa brasileira não está subordinada aos interesses do país, mas a uma entidade que luta para "avançar" no continente.
Fica difícil saber qual tese de Marco Aurélio Garcia é mais delinqüente. Mas elejo uma, sem prejuízo das outras: "Eu lhes lembro que o Brasil tem uma posição neutra sobre as Farc: nós não as qualificamos nem de grupo terrorista nem de força beligerante". Vejam só: se as Farc não são terroristas e não são nem mesmo uma força beligerante, então são o quê? Sim, acreditem: o PT e o governo Lula acham que os narcoterroristas formam um exército de libertação. E nem poderia ser diferente, não é? Voltemos ao Desaforo de São Paulo: então os petistas podem se reunir alegremente com um grupo que seqüestra, que tortura, que mata?
Observem que Marco Aurélio Gracia trata o presidente Álvaro Uribe com visível hostilidade e aponta para o seu isolamento. Isto mesmo: o homem não é do grupo. Mas de que grupo? Ainda é preciso dar alguma resposta?
Para Marco Aurélio, a única divergência é saber se os membros da Farc morreram enquanto dormiam ou se foi um conflito, o que, segundo ele, será resolvido pela comissão. Observem que não há qualquer censura, nada!, ao fato, também demonstrável, de que o acampamento estava em solo equatoriano e que o governo do Equador admitiu que negociava, sim, com os terroristas.
Apontei que o discurso do Brasil na OEA, na prática, fazia a defesa das Farc — especialmente ao omitir o nome do grupo — e condenava a Colômbia. Alguns leitores até de boa-fé disseram que exagerei. A fala de Marco Aurélio não deixa agora a menor dúvida. Atenção: a OEA não condenou a Colômbia, mas fiquemos de olho na tal comissão. É bem possível que ela conclua que se tratou mesmo de uma massacre, já que os coitadinhos estariam dormindo. É mesmo? Por que as forças do estado democrático da Colômbia não chegaram cantando e dançando a Macarena?...
Marco Aurélio protege as Farc, suas aliadas no Foro, e condena o governo constitucional da Colômbia, eleito pelo voto direto, em pleito democrático, pela esmagadora maioria do povo colombiano. E, como se nota, aproveita ainda para cantar as glórias do tirano Hugo Chávez. Notem ainda que o assessor de Lula acusa a existência de uma "guerra de informação". É um jeito sutil de sugerir que a Colômbia está mentindo.
A entrevista de Marco Aurélio é muito grave!
Ela escarnece da ordem internacional!
Ela escarnece das resoluções antiterrorismo do Conselho de Segurança da ONU!
Ela escarnece da tradição da diplomacia brasileira!
Ela escarnece de todos nós.
Ele faz isso sem nenhum esforço, como sabemos.
A Comissão de Relações Exteriores do Senado está moralmente obrigada a chamar este senhor para se explicar. As oposições, se têm algum respeito pelo estado democrático, têm de acusar o seu discurso delinqüente. E repudir a sua entrevista de maneira cabal e insofismável.