Carta ao Leitor
Verdadeiras batalhas são travadas pela internet através de mensagens instantâneas, blogs, chats e dos programas que permitem criar comunidades planetárias de usuários, como o Facebook (400 milhões), o Orkut (26 milhões) e o Twitter (105 milhões). Saber o que está sendo falado nessas redes é uma obsessão. Será que minha marca de sabão em pó caiu no gosto das pessoas? Como foi recebida minha nova música? Ou, simplesmente, mas não menos importante, as pessoas do meu universo virtual gostam de mim? Entre todas as ferramentas que deram voz às maiorias, o Twitter é, pela simplicidade de uso e por provocar reações em cadeia, a mais efetiva para criar ondas na superfície da internet. Um "tweet" pode dar origem a dezenas, centenas, milhares e até milhões de "retweets" – ou seja, mensagens a favor ou contra determinado assunto. O locutor de esportes da Rede Globo Galvão Bueno, que narra a Copa 2010 na África do Sul, viu-se na semana passada no epicentro de um desses furiosos tornados. Galvão é um profissional prodigioso, capaz, por exemplo, de manter a audiência cativa durante horas enquanto se espera a chuva passar para que se dê a largada em um Grande Prêmio de Fórmula 1. Como todo rosto e voz onipresentes, Galvão produziu sua legião de descontentes. Alguém dessa turma criou no Twitter a corrente "Cala boca Galvão", que, impulsionada pelo truque de que "cala boca" significava "salve" e Galvão era um "pássaro brasileiro raro em extinção", ganhou milhões de adesões em todo o mundo. O locutor levou a coisa na brincadeira. A propagação selvagem do fenômeno, porém, mostrou o poder devastador do Twitter para o bem ou para o mal. O jornalista Rafael Sbarai, de 23 anos, é os olhos, os ouvidos e a voz de VEJA na cacofonia da internet. Rafael tem um desses cargos que simplesmente não existiam há poucos anos. Ele é editor de "mídias sociais", assunto que é também tema de sua dissertação de mestrado em uma universidade de São Paulo. Com 200 000 seguidores, VEJA é o site de notícias com maior presença no Twitter no Brasil. Diz Rafael: "O sucesso se deve à qualidade do conteúdo do nosso site, mas claro que nossos seguidores gostam de saber que há uma pessoa conversando com eles no Twitter, não um robô digital disparando respostas prontas".A maioria ruidosa
Alexandre Schneider O editor de mídias sociais de veja.com,
Rafael Sbarai
Políticos, celebridades, marqueteiros e publicitários conhecem bem o conceito de "maioria silenciosa", termo criado em 1969 pelo então presidente dos Estados Unidos Richard Nixon (1913-1994) e que definia um contingente majoritário de pessoas incapazes ou desinteressadas de revelar suas opiniões publicamente. Uma reportagem desta edição de VEJA mostra que a internet deu voz a esses contingentes, que se tornaram não apenas ruidosos, mas global e espantosamente ávidos por expressar suas opiniões.