Nahas-BrasilTelecom-TelecomItalia-Pt etc
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O lulismo está indo para a cadeia. Na Itália.
O caso estourou duas semanas atrás. Os promotores públicos milaneses descobriram que a Telecom Italia tinha um esquema de pagamentos ilegais a autoridades brasileiras. O esquema era simples. A Telecom Italia do Brasil remetia dinheiro a empresas de fachada sediadas nos Estados Unidos e na Inglaterra. A dos Estados Unidos era a Global Security Services. A da Inglaterra era a Business Security Agency. O dinheiro depositado nas contas dessas duas empresas era imediatamente repassado a intermediários brasileiros, que o distribuíam a terceiros.
A Business Security Agency era administrada por Marco Bernardini, consultor da Pirelli e da Telecom Italia. Ele entregou todos os seus documentos bancários à magistratura italiana. Há uma série de pagamentos em favor do advogado Marcelo Ellias: 50.000 dólares em 13 de julho de 2005, 200.000 em 5 de janeiro de 2006, 50.000 em 2 de fevereiro de 2006. De acordo com Angelo Jannone, outro funcionário da Telecom Italia, Marcelo Ellias era o canal usado pela empresa para pagar Luiz Roberto Demarco, aliado da Telecom Italia na batalha contra Daniel Dantas, e parceiro dos petistas que controlavam os fundos de pensão estatais.
Entre 11 de julho de 2005 e 6 de janeiro de 2006, Marco Bernardini deu dinheiro também à J.R. Assessoria e Análise. Em seu depoimento aos promotores públicos, Marco Bernardini disse que esses pagamentos eram redirecionados à cúpula da Polícia Federal. Paulo Lacerda e Zulmar Pimentel, números 1 e 2 da Polícia Federal, devem estar muito atarefados no momento, investigando a origem do dinheiro usado para comprar os Vedoin. Mas quando sobrar um tempinho na agenda eles podem procurar seus colegas italianos.
Outro nome que está sendo investigado pela Justiça milanesa é Alexandre Paes dos Santos. Conhecido como APS, ele é um dos maiores lobistas de Brasília. Foi contratado pela Telecom Italia para prestar assessoria política. Segundo uma fonte citada pela revista Panorama, APS tinha de ser pago clandestinamente porque é cunhado de Eunício Oliveira. Na época dos pagamentos, Eunício Oliveira era o ministro das Comunicações de Lula, responsável direto pela área de interesse da Telecom Italia. Eunício Oliveira acaba de ser eleito deputado federal com mais de 200.000 votos. Lula já espalhou que, em caso de segundo mandato, ele é um forte candidato para presidir a Câmara. É bom saber o que nos espera.
A revista Panorama reconstruiu também um caso denunciado por VEJA: aqueles 3,2 milhões de reais em dinheiro vivo retirados da Telecom Italia em nome de Naji Nahas. Um dos encarregados pelo pagamento conta agora que o dinheiro foi entregue a deputados da base do governo, do PL, membros da Comissão de Ciência e Tecnologia.
Lula se orgulha de seu prestígio internacional. Orgulha-se a ponto de roubar aplausos dirigidos ao secretário-geral da ONU. O caso da Telecom Italia permite dizer que o lulismo realmente ganhou o mundo. Em sua forma mais autêntica: o dinheiro sujo.
A versão de Nahas para a bolada que recebeu da Telecom Italia
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O empresário Naji Nahas deu a seguinte entrevista a VEJA sobre sua consultoria à Telecom Italia:
O SENHOR RECEBEU O DINHEIRO DA TELECOM ITALIA? ONDE?
Sim. No meu antigo escritório, em São Paulo.
POR QUE O PAGAMENTO FOI FEITO EM ESPÉCIE?
Simples: depois de tudo o que fizeram comigo, com a liquidação da Internacional de Seguros, fiquei com meus bens bloqueados. Vivia sob ameaça de bloqueio. Como pessoa física, não tenho mais conta em banco. Por isso, recebi em dinheiro. Declarei e paguei o imposto de renda.
SEM CONTA, COMO O SENHOR FAZ PARA VIVER, FAZER COMPRAS, VIAJAR?
Com cartão de crédito. Gostaria de deixar claro que meu negócio são grandes empresas. Nunca tive negócio com político nem com o setor público. Nunca dei dinheiro ao PT ou a outro partido. Nunca me foi pedido dinheiro para o PT. O dinheiro que recebi da Telecom Italia não foi para o PT. Foi para o Naji, e foi merecido. Essa história de que Lula depende do Naji... Vou te contar... Nada como ser uma lenda.
ONDE ESSE DINHEIRO ESTAVA ACOMODADO QUANDO O SENHOR O RECEBEU?
Acho que numa mala média Samsonite. Quando chegou, mandei para minha tesouraria.
O CONTRATO PREVIA OITO PAGAMENTOS. COMO O SENHOR CONSEGUIU RECEBER À VISTA?
Eu pedi ao Tronchetti (Marco Tronchetti Provera, presidente da Telecom Italia). Estava precisando e pedi a antecipação. Não ganhei esse dinheiro sem trabalhar. Fiz acordos para resolver a disputa entre o Opportunity (banco de Daniel Dantas) e a Telecom Italia. Por meio de um deles, a Telecom Italia pôde lançar celulares com tecnologia GSM.
Em fevereiro, a explicação de Diogo do "Caso Nahas"
Na coluna de 8 de fevereiro de 2006, na revista Veja, Diogo fazia uma síntese do que apurou sobre a atuação de Naji Nahas nos bastidores do governo Lula. A coluna se chamava “Para entender o caso Nahas”. Segue a íntegra:*
Em maio de 2003, a Telecom Italia estava engajada naquilo que Luiz Gushiken definiu como "o maior conflito societário da história do capitalismo brasileiro". Ou seja, a guerra com o Opportunity pelo controle da Brasil Telecom. Desde a posse de Lula, o Opportunity, de Daniel Dantas, estava em dificuldade. O governo abusava de seu poder para prejudicá-lo. Antonio Palocci acuava seu principal parceiro, o Citigroup, alijando-o da emissão de títulos públicos e da concessão de créditos do BNDES. Enquanto isso, José Dirceu, Luiz Gushiken e o presidente do Banco do Brasil, Cássio Casseb, clandestinamente costuravam um acordo com a Telecom Italia. É preciso ficar de olho nas datas. Em 7 de maio, a Telecom Italia recebeu os 3,25 milhões de reais sacados em nome de Naji Nahas. Em 26 de maio, Cássio Casseb, a mando de José Dirceu, encontrou-se secretamente em Lisboa com quatro representantes da Telecom Italia, para negociar o papel de cada um na Brasil Telecom, depois que Daniel Dantas fosse afastado da empresa. Duas semanas depois, houve um segundo encontro em Lisboa, que até hoje permanecia secreto. Dois dirigentes da Telecom Italia encontraram-se com Fábio Moser, Renato Sobral Pires Chaves e João Laudo de Camargo, do fundo de pensão Previ, para discutir o organograma da futura Brasil Telecom. Em particular, quem ocuparia a diretoria financeira.
Em julho de 2003, algo mudou. José Dirceu, de uma hora para a outra, perdeu todo o interesse pela questão. Isso coincidiu com a reunião no hotel Blue Tree, de Brasília, entre Delúbio Soares, Marcos Valério e Carlos Rodenburg, sócio do Opportunity. Daniel Dantas, naquele período, soube cercar-se das pessoas certas. Da mesma forma que a Telecom Italia ofereceu um contrato milionário a Naji Nahas, Daniel Dantas ofereceu um contrato de 8 milhões de reais a Kakay, amigo do peito de José Dirceu, e um contrato de 1 milhão de reais a Roberto Teixeira, amigo do peito de Lula. O governo rachou ao meio. De um lado, ficou a turma de José Dirceu. Do outro, a turma de Luiz Gushiken, que continuou a batalha contra Daniel Dantas. Em seu depoimento à CPI dos Correios, Luiz Gu-shiken negou que, no ministério, tenha participado ativamente da disputa pela Brasil Telecom. Acredite quem quiser. Ele teve diversos encontros secretos com os dirigentes da Telecom Italia, com o único objetivo de combinar estratégias para tirar Daniel Dantas do comando da companhia. Nos primeiros meses de 2004, Luiz Gushiken encontrou-se com Giampaolo Zambeletti, em seu gabinete. Pouco tempo depois, ele jantou com representantes da Telecom Italia, na casa do publicitário Luiz Lara, para tratar do mesmo assunto. Em 2005, reuniu-se com Naji Nahas.