Wednesday, October 11, 2006

Nahas-BrasilTelecom-TelecomItalia-Pt etc


Tão logo a revista Veja desta semana chegou às bancas, eu imaginei que o Ministério Público fosse se mexer. Por quê? Dentre outras coisas, por causa da coluna de Diogo Mainardi, intitulada “Notícias da Itália”, que segue abaixo. Até agora, nada aconteceu. Ali, vejam só, aparece o nome de Naji Nahas, o mesmo que, suspeita a CPI, fez um depósito na conta do inocentado — por Gedimar Passos e parte da imprensa — Freud Godoy. Leia a coluna de Diogo na íntegra:
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O lulismo está indo para a cadeia. Na Itália.
O caso estourou duas semanas atrás. Os promotores públicos milaneses descobriram que a Telecom Italia tinha um esquema de pagamentos ilegais a autoridades brasileiras. O esquema era simples. A Telecom Italia do Brasil remetia dinheiro a empresas de fachada sediadas nos Estados Unidos e na Inglaterra. A dos Estados Unidos era a Global Security Services. A da Inglaterra era a Business Security Agency. O dinheiro depositado nas contas dessas duas empresas era imediatamente repassado a intermediários brasileiros, que o distribuíam a terceiros.
A Business Security Agency era administrada por Marco Bernardini, consultor da Pirelli e da Telecom Italia. Ele entregou todos os seus documentos bancários à magistratura italiana. Há uma série de pagamentos em favor do advogado Marcelo Ellias: 50.000 dólares em 13 de julho de 2005, 200.000 em 5 de janeiro de 2006, 50.000 em 2 de fevereiro de 2006. De acordo com Angelo Jannone, outro funcionário da Telecom Italia, Marcelo Ellias era o canal usado pela empresa para pagar Luiz Roberto Demarco, aliado da Telecom Italia na batalha contra Daniel Dantas, e parceiro dos petistas que controlavam os fundos de pensão estatais.
Entre 11 de julho de 2005 e 6 de janeiro de 2006, Marco Bernardini deu dinheiro também à J.R. Assessoria e Análise. Em seu depoimento aos promotores públicos, Marco Bernardini disse que esses pagamentos eram redirecionados à cúpula da Polícia Federal. Paulo Lacerda e Zulmar Pimentel, números 1 e 2 da Polícia Federal, devem estar muito atarefados no momento, investigando a origem do dinheiro usado para comprar os Vedoin. Mas quando sobrar um tempinho na agenda eles podem procurar seus colegas italianos.
Outro nome que está sendo investigado pela Justiça milanesa é Alexandre Paes dos Santos. Conhecido como APS, ele é um dos maiores lobistas de Brasília. Foi contratado pela Telecom Italia para prestar assessoria política. Segundo uma fonte citada pela revista Panorama, APS tinha de ser pago clandestinamente porque é cunhado de Eunício Oliveira. Na época dos pagamentos, Eunício Oliveira era o ministro das Comunicações de Lula, responsável direto pela área de interesse da Telecom Italia. Eunício Oliveira acaba de ser eleito deputado federal com mais de 200.000 votos. Lula já espalhou que, em caso de segundo mandato, ele é um forte candidato para presidir a Câmara. É bom saber o que nos espera.
A revista Panorama reconstruiu também um caso denunciado por VEJA: aqueles 3,2 milhões de reais em dinheiro vivo retirados da Telecom Italia em nome de Naji Nahas. Um dos encarregados pelo pagamento conta agora que o dinheiro foi entregue a deputados da base do governo, do PL, membros da Comissão de Ciência e Tecnologia.
Lula se orgulha de seu prestígio internacional. Orgulha-se a ponto de roubar aplausos dirigidos ao secretário-geral da ONU. O caso da Telecom Italia permite dizer que o lulismo realmente ganhou o mundo. Em sua forma mais autêntica: o dinheiro sujo.

A versão de Nahas para a bolada que recebeu da Telecom Italia

Na coluna de Diogo, abaixo, fala-se uma bolada de R$ 3,2 milhões que Naji Nahas recebeu da Telecom Italia. Segundo a revista italiana Panorama, o dinheiro foi parar na mão de políticos. Em entrevista à Veja em fevereiro deste ano, Nahas admitiu o pagamento. Mas nega que seja para pagar políticos. Segue a entrevista dada à revista:
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O empresário Naji Nahas deu a seguinte entrevista a VEJA sobre sua consultoria à Telecom Italia:
O SENHOR RECEBEU O DINHEIRO DA TELECOM ITALIA? ONDE?
Sim. No meu antigo escritório, em São Paulo.
POR QUE O PAGAMENTO FOI FEITO EM ESPÉCIE?
Simples: depois de tudo o que fizeram comigo, com a liquidação da Internacional de Seguros, fiquei com meus bens bloqueados. Vivia sob ameaça de bloqueio. Como pessoa física, não tenho mais conta em banco. Por isso, recebi em dinheiro. Declarei e paguei o imposto de renda.
SEM CONTA, COMO O SENHOR FAZ PARA VIVER, FAZER COMPRAS, VIAJAR?
Com cartão de crédito. Gostaria de deixar claro que meu negócio são grandes empresas. Nunca tive negócio com político nem com o setor público. Nunca dei dinheiro ao PT ou a outro partido. Nunca me foi pedido dinheiro para o PT. O dinheiro que recebi da Telecom Italia não foi para o PT. Foi para o Naji, e foi merecido. Essa história de que Lula depende do Naji... Vou te contar... Nada como ser uma lenda.
ONDE ESSE DINHEIRO ESTAVA ACOMODADO QUANDO O SENHOR O RECEBEU?
Acho que numa mala média Samsonite. Quando chegou, mandei para minha tesouraria.
O CONTRATO PREVIA OITO PAGAMENTOS. COMO O SENHOR CONSEGUIU RECEBER À VISTA?
Eu pedi ao Tronchetti (Marco Tronchetti Provera, presidente da Telecom Italia). Estava precisando e pedi a antecipação. Não ganhei esse dinheiro sem trabalhar. Fiz acordos para resolver a disputa entre o Opportunity (banco de Daniel Dantas) e a Telecom Italia. Por meio de um deles, a Telecom Italia pôde lançar celulares com tecnologia GSM.

Em fevereiro, a explicação de Diogo do "Caso Nahas"

Na coluna de 8 de fevereiro de 2006, na revista Veja, Diogo fazia uma síntese do que apurou sobre a atuação de Naji Nahas nos bastidores do governo Lula. A coluna se chamava “Para entender o caso Nahas”. Segue a íntegra:
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Em maio de 2003, a Telecom Italia estava engajada naquilo que Luiz Gushiken definiu como "o maior conflito societário da história do capitalismo brasileiro". Ou seja, a guerra com o Opportunity pelo controle da Brasil Telecom. Desde a posse de Lula, o Opportunity, de Daniel Dantas, estava em dificuldade. O governo abusava de seu poder para prejudicá-lo. Antonio Palocci acuava seu principal parceiro, o Citigroup, alijando-o da emissão de títulos públicos e da concessão de créditos do BNDES. Enquanto isso, José Dirceu, Luiz Gushiken e o presidente do Banco do Brasil, Cássio Casseb, clandestinamente costuravam um acordo com a Telecom Italia. É preciso ficar de olho nas datas. Em 7 de maio, a Telecom Italia recebeu os 3,25 milhões de reais sacados em nome de Naji Nahas. Em 26 de maio, Cássio Casseb, a mando de José Dirceu, encontrou-se secretamente em Lisboa com quatro representantes da Telecom Italia, para negociar o papel de cada um na Brasil Telecom, depois que Daniel Dantas fosse afastado da empresa. Duas semanas depois, houve um segundo encontro em Lisboa, que até hoje permanecia secreto. Dois dirigentes da Telecom Italia encontraram-se com Fábio Moser, Renato Sobral Pires Chaves e João Laudo de Camargo, do fundo de pensão Previ, para discutir o organograma da futura Brasil Telecom. Em particular, quem ocuparia a diretoria financeira.

Em julho de 2003, algo mudou. José Dirceu, de uma hora para a outra, perdeu todo o interesse pela questão. Isso coincidiu com a reunião no hotel Blue Tree, de Brasília, entre Delúbio Soares, Marcos Valério e Carlos Rodenburg, sócio do Opportunity. Daniel Dantas, naquele período, soube cercar-se das pessoas certas. Da mesma forma que a Telecom Italia ofereceu um contrato milionário a Naji Nahas, Daniel Dantas ofereceu um contrato de 8 milhões de reais a Kakay, amigo do peito de José Dirceu, e um contrato de 1 milhão de reais a Roberto Teixeira, amigo do peito de Lula. O governo rachou ao meio. De um lado, ficou a turma de José Dirceu. Do outro, a turma de Luiz Gushiken, que continuou a batalha contra Daniel Dantas. Em seu depoimento à CPI dos Correios, Luiz Gu-shiken negou que, no ministério, tenha participado ativamente da disputa pela Brasil Telecom. Acredite quem quiser. Ele teve diversos encontros secretos com os dirigentes da Telecom Italia, com o único objetivo de combinar estratégias para tirar Daniel Dantas do comando da companhia. Nos primeiros meses de 2004, Luiz Gushiken encontrou-se com Giampaolo Zambeletti, em seu gabinete. Pouco tempo depois, ele jantou com representantes da Telecom Italia, na casa do publicitário Luiz Lara, para tratar do mesmo assunto. Em 2005, reuniu-se com Naji Nahas.

ONG investigada por repasse federal é da filha do presidente, afirma pefelista

Rosa Costa

O líder do PFL no Senado, Heráclito Fortes (PI), revelou ontem que a ONG Amigos de Plutão, à qual foi atribuído repasse de verba pelo governo federal de R$ 7,5 milhões, é nome fictício que a oposição usa para se referir a outra ONG, catarinense, que teve entre seus integrantes a filha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Lurian, e seu churrasqueiro preferido, Jorge Lorenzetti, hoje acusado no escândalo do dossiê Vedoin.

O senador justificou a senha da oposição como forma de contornar o segredo judicial que protege o processo de investigação sobre o repasse de verba federal para a ONG verdadeira.

Heráclito fez a revelação no meio de uma acalorada discussão com a líder do governo no Senado, Ideli Salvatti (SC), a quem acusou de esconder os delitos cometidos por ONGs de seu Estado, especificamente a que teve participação de Lurian e Lorenzetti. Ele não nominou essa ONG, mas trata-se da Rede 13, de Blumenau, cujo comando Lurian repassou a Lorenzetti antes de sua extinção.

A denúncia original de irregularidades foi feita pelo jornalista Fernando Bond, que trabalhou na Rede 13 por três meses. Ele contou que o órgão tinha um rombo de R$ 70 mil, coberto por Lorenzetti - escalado pelo PT para intervir na entidade e fechá-la, com receio de a história vir a público. A denúncia do jornalista vai mais longe e levanta suspeita de que a ONG servira de veículo para repasse de verbas públicas a petistas.

A revelação de Heráclito escapou num momento de irritação com Ideli, que o acusara de criar factóide justamente por fazer denúncia contra entidade fictícia. A senadora fez a acusação e se retirou do plenário.

'V.Exa. me deu oportunidade de explicar quem são os Amigos de Plutão. Os amigos de Plutão moram em Blumenau e a ONG é de Lorenzetti, a ONG é da senhora Lurian', disse, dirigindo-se a Ideli, que já havia se retirado. Para o senador, ninguém melhor do que a líder petista sabe do que se trata. 'Tanto é que sai desesperada do plenário.' A senadora alegou um vôo marcado para não dar apartes à oposição.

Heráclito disse que aguardava resposta. 'Plutão existe e mora aqui. Eis o Plutão, Brasil! (...) Venha, senadora Ideli, prestar conta à Nação desse processo que corre em segredo de Justiça. Afinal, V.Exa. permitiu que o segredo fosse revelado. Eis o Plutão! Preste conta à Nação', concluiu, aos berros.

Assim não, Janio de Freitas!

Assim não, Janio de Freitas!

Uma tese anda no mercado das idéias, de que a coluna de Janio de Freitas, na Folha desta terça (clique aqui) é parte. Da outra parte, já andei tratando aqui: anda na boca dos marqueteiros. Espero que não contamine o comando da campanha do tucano Geraldo Alckmin. Vamos lá. Explico-me. O texto pode ficar um pouco longo. Lamento. Mas há coisas que não se resolvem em notas de leitura rápida.

Primeira parte
A primeira parte da tese, vocalizada, como disse, por Janio, consiste em acusar Alckmin de excesso de agressividade no debate. No dizer de Janio, ele “apresentou-se como um misto de Carlos Lacerda e Fernando Collor. O pior de ambos: a agressividade compulsiva de Lacerda e a arrogância de Collor.” Fiquei curioso em saber o que o articulista considera, então, “o melhor de ambos”, especialmente de Collor. Confesso que, no caso deste senhor, nada vejo de “melhor”. Sua única contribuição ao Brasil foi ter derrotado Lula em 1989 e, mais tarde, nos ajudado a testar as instituições democráticas. Mas vá lá...

Se Lula fosse um “dotô”, aposto que Janio não estaria apontado a “agressividade” de Alckmin. A acusação só existe porque parte da elite intelectual brasileira, de que Janio faz parte (e eu também, não nego), tende a ver Lula como um inimputável — desse mal não padeço). Escrevi isso no Primeira Leitura umas 800 vezes. Trata-se ainda do velho complexo do bom nhonhô, a exemplo daqueles mocinhos brancos abolicionistas de Benedito Ruy Barbosa em Sinhá Moça. É claro que eu não vejo a novela, já que estou sempre aqui. Acompanho por alguns comentários do Elio Gaspari. Engraçado, Janio: quando Mário Covas botava Paulo Maluf para correr, ninguém registrava a sua “agressividade compulsiva”. Ao contrário: todos aplaudíamos. Mas com Lula... Poxa! Ele veio da “crasse operária”. Merece ser tratado com a cordialidade que aqueles do “andar de cima” (by Gaspari) devem aos do “andar de baixo” (idem). Ainda que sua política monetária seja celebrada lá nas alturas, não é mesmo?

Sobre a principal pergunta que Alckmin fez a Lula, escreve Janio: “Caso as investigações não a respondam antes, continuará explorada a pergunta mais repetida por Alckmin na discussão: ‘De onde veio o dinheiro? (do negócio com o dossiê). Não é uma indagação-acusação honesta. Até agora não consta nenhuma sugestão objetiva, nem sugestão, de que Lula tenha algo a ver com o negócio do dossiê ou, ao menos, conhecimento dele -como Roberto Jefferson lhe deu, em parte, do mensalão.” Huuummm, aqui o bicho pega.

Janio acha que não. E, como ele acha, isso altera a honestidade da pergunta alheia. É um jeito estranho, um tanto egótico, de ver o mundo. Eu já acho que os indícios de que Lula sabia ou pode saber, desde que queira, abundam. Empresto-os ao colunista. Quem sabe, assim, ele confira à indagação do tucano o “Certificado Janio de Freitas de Honestidade”. Vamos ver. Jorge Lorenzetti, Osvaldo Bargas e Ricardo Berzoini — deixemos, por ora, Freud Godoy de lado, a despeito da estranha peça de defesa de seu advogado — são homens da absoluta confiança de Lula. Verdade ou mentira, Janio? Terá tido o presidente Lula a curiosidade de lhes perguntar, como observou Diogo Mainardi a Tarso Genro, de onde veio o dinheiro? O fato de serem três pessoas que privam da intimidade do presidente não serve nem de “sugestão”? Você acha mesmo, Janio, que Lula está, até agora, em relação a isso tudo como você ou eu — ou seja, não tem nada com isso? Tal indagação confere a Alckmin a “agressividade” de um Lacerda e a “arrogância” de um Collor?

Ademais, basta que se conheça, e Janio conhece, a ferina retórica de Lacerda para saber que ela não estava presente no discurso de Alckmin. Ah, Janio: Lula não resistiria em pé a um discurso de dois minutos do mais famoso dos udenistas e maior orador do Brasil moderno. Claro, devemos ter avaliações distintas sobre o político fluminense. Fez muita bobagem na vida, mas foi uma das mais brilhantes figuras da política brasileira de todos os tempos. Seu mal estava na vocação compulsivamente golpista e num egocentrismo oceânico, mas a) suas teses sobre o país estavam corretas; b) era um administrador de mão cheia, como a antiga Guanabara nunca mais viu. Gostava de bater à porta dos quartéis, o que lhe custou um pedaço do futuro político. Satanizá-lo, no entanto, corresponde a endossar o baguncismo de Getúlio Vargas ou de João Goulart. Lacerda não pregava no deserto, mas num ambiente conflagrado em que ele não era o único irresponsável.

Quando aponta uma suposta e inexistente similaridade entre Alckmin e Lacerda, Janio está dando asas à fantasia de que, vá lá, Alckmin está para o udenista como Lula — que ele também critica — estaria para Getúlio e Jango. O petismo gosta desses paralelismos. Quanto à arrogância à moda Collor, trata-se de uma avaliação absolutamente alheia ao que aconteceu no debate. Arrogante foi Lula: desafio Janio a apontar uma única vez em que o tucano, à diferença de Lula, recorreu à ironia. O petista chegou a se oferecer para ajudar Alckmin a dar uma resposta; indagou-lhe se havia feito “psicodrama”; disse um desdenhoso “você não é assim”; Tarso Genro associou o oposicionista a um “pitbull”, afirmando que o considerava um membro do “Opus Dei”. Como se vê, Janio, tudo muito humilde, não é mesmo?

Na fala mais agressiva, Alckmin tachou a fala do presidente de “mentirosa”. Referia-se à acusação, feita por Lula, de que ele, Alckmin, privatizaria a Petrobras, o Banco do Brasil e os Correios. O petista admitiu a fala, sustentou-a. O PT continua a fazer proselitismo sobre o tema. Ou seja: são todos mentirosos.

Segunda parte
A segunda parte da tese diz respeito aos prejuízos a que Alckmin estaria sujeito com o tom mais duro, adotado no debate da Band. A explicação consiste no seguinte: a grande massa de eleitores de Lula, os mais pobres, reagirá à postura do tucano, rejeitando a suposta agressão àquele que elegeram como líder. Petistas estão plantando na mídia que pesquisas qualitativas estariam a indicar que vencer o debate não corresponde a atrair eleitores. Bem, isso é o que vamos ver.

A questão está menos na escolha do que na existência ou não de alternativas. A largada do segundo turno apontou, segundo as pesquisas, uma vantagem de Lula entre 8 e 10 pontos. O segundo turno só está aí porque parte da sociedade reagiu à tramóia petista do dossiê. A uma larga fatia do eleitorado, como se viu, o imbróglio pareceu irrelevante. E a única alternativa dos tucanos é, sim, ao lado de fazer propostas para o país, evidenciar a gravidade do que aconteceu. Não! Tanto o mensalão como o dossiê não são malandragens feitas por “meninos aloprados”. São ações de bandidos que não respeitam a democracia.

Vai aqui o parágrafo mais delicado deste texto. Ainda que as pesquisas qualitativas e mesmo as de opinião venham a indicar a rejeição ao que se chama “novo estilo” de Alckmin, espero que o comando de campanha não abra mão de fazer do candidato um veículo de denúncia do que está em curso no país. Trata-se, a despeito de qualquer outra coisa, de um instrumento de educação política. Mesmo que Lula vença a disputa, tal vitória há de se dar sob a sombra da ilegitimidade dos meios com que governou. E cabe a Lula, Janio, indagar firmemente seus amigos: “Qual é a origem do dinheiro, companheiros?”. A menos que ele saiba. E prefira que não saibamos. Não a tempo.

Janio também reclama que o debate transformou-se numa discussão, em que as alternativas e planos de governo não ficaram claras. E o caso de se perguntar: e quando ficaram? Aqui e no mundo democrático, reitero, debates são uma confrontação de temas gerais, de personalidades, de estilos. A menos que houvesse uma mesa, com juízes neutros, para apertar uma campainha: “Opa, o senhor mentiu; a sua conta está errada”. Mas aí não seria debate, e sim julgamento.

A verdade, a tristíssima verdade — triste para o jornalismo e para o país — é que Alckmin cometeu o grande pecado de vencer o debate. Mesmo alguns que não suportam nem olhar para a cara de Lula esperavam que ele perdesse. Afinal, são críticos do presidente não por tudo o que ele fez, mas por aquilo que ele não fez.

O Lula que se dizia socialista deixou saudades.
Por Reinaldo Azevedo VOLTAR A ARQUIVO DE ARTIGOS ETC
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