Sunday, September 02, 2007

Menos, Jobim. Menos.por Ricardo Noblat


Assanhadinho, esse Jobim.


Como ministro da Defesa, deveria se ater aos muitos problemas que tem. E não ignorar que levou um chega-pra-lá do Comandante do Exército por ter dito na semana passada que nenhum militar ousaria reagir ao lançamento pelo governo do livro sobre as vítimas da ditadura militar de 64.


Pois o Comandante convocou a Brasília os 14 generais que fazem parte do Alto Comando do Exército e emitiu nota a respeito. É irrelevante que Jobim e Lula tenham tido conhecimento prévio dela. O conteúdo da nota é político. Pelos militares falam Lula e Jobim. Era o que se pensava.


Pois agora Jobim faz uma visita de solidariedade a Renan Calheiros, no momento o político mais enlameado do país, e sai de lá defendendo que o Congresso apresse o julgamento de Renan. É o que deseja o próprio Renan, certo de que será absolvido.


O coordenador político do governo atende pelo nome de Mares Guia. É ministro das Relações Institucionais. Por sinal havia dito outra dia o que Jobim agora repete. No passado, Jobim foi sócio do escritório de advocacia que defende Renan. Para que se expor a ilações maldosas?


Como presidente do Supremo Tribunal Federal, Jobim procurou líderes políticos durante a crise do mensalão para pedir que fossem comedidos. Para aconselhar a que não pusessem em risco a governabilidade. Foi outro fora que deu.


Ministro do Supremo não tem que se meter com política. Menos ainda com matéria política que poderá ficar sujeita mais tarde ao seu julgamento.


Menos, Jobim. Menos. Para o seu próprio bem.


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Augusto Nunes Sete Dias



Homens de honra
 
FOTOS ABR 
Souza e Barbosa mostraram que é possível agir com decência na pátria da impunidade 
Depois de examinar detida- mente o caso, o procurador-geral da República concluiu que incontáveis delinqüências haviam sido praticadas por uma quadrilha de grosso calibre. E encaminhou ao Supremo Tribunal Federal uma denúncia que descrevia, com contundente clareza, bandalheiras promovidas por 40 integrantes da "organização criminosa sofisticada". Depois de examinar detidamente a argumentação do procurador-geral, o ministro relator do caso concluiu que a denúncia tinha consistência suficiente para transformar os indiciados em réus de um processo conduzido pelo STF. E distribuiu entre os demais ministros um parecer que esmiuçava, com irretocável objetividade, os pecados cometidos pelos integrantes do bando. Depois de examinarem detidamente o caso (e acompanharem com a atenção de primeiro da classe o que diziam as partes em conflito), os ministros do Supremo concluíram que os 40 denunciados têm culpa no cartório. E decidiram que todos serão julgados. Se exercessem tais funções em países civilizados, o procurador-geral Antonio Fernando de Souza e o relator Joaquim Barbosa não teriam feito nada demais. Por terem agido corretamente na pátria da impunidade, esses homens de honra fizeram história. É possível ser decente no Brasil. É provável que o processo se arraste por alguns anos. É provável que, ao longo da lenta caminhada, alguns crimes sejam prescritos. É provável que chicaneiros com grife consigam livrar da cadeia clientes que comandam a quadrilha. Mas é certo que o país mudou neste fim de inverno. A Era da Impunidade pode ter começado a acabar, constataram milhões de brasileiros atormentados pelo crescente atrevimento dos bandidos federais. São quadrilheiros, informou o Supremo. Terão de sentar-se no banco dos réus. Serão submetidos a julgamento. E podem acabar na cadeia. A onda de esperança foi engrossada pela solidão do ministro Ricardo Lewandowski, o único a rejeitar o enquadramento na quadrilha do ex-ministro José Dirceu. O caçula do Supremo não viu nada de errado na performance do amigo que o ajudou a chegar lá. Fazsentido. Lewandowski não costuma ver direito as coisas.No começo do julgamento, não viu a máquina fotográficaque acompanhava a troca de mensagens pela internet com a ministra Carmen Lúcia. No fim, misturou juridiquês e latinório para justificar o voto. "Diz o vetusto brocardo: nullum crimen nulla poena sine lege", declamou. Não vira o artigo do Código Penal que trata do crime de formação de quadrilha ou bando. Depois do julgamento, não viu uma jornalista atenta à conversa pelo celular na parte externa do restaurante. O Supremo só condenara Dirceu e seus comparsas por ter deliberado com a faca no pescoço, delirou. Só ele resistira à pressão da imprensa golpista.Lewandowski não viu a mudança ocorrida neste agosto. 

Cabôco
 
Per guntadô 
Os procuradores designa- dos para cuidar do escândaloprotagonizado há quase quatro anos por Valdomiro "Umpor Cento pra Mim" Diniz, assessor e amigo do ex-ministro José Dirceu, recomendam paciência aos brasileiros. A acusação pode ser feita até 2010, avisaram os promotores federais. É por isso que eles nem sequer examinaram a papelada. Impressionado com a informação, o Cabôco quer saber a razão da demora: é excesso de trabalho ou excesso de preguiça? 

Azeredo rima
 
com mensalão 
Waldemar de Brito queria ser lembrado pelo Brasil como o descobridor de Pelé. O senador tucano Eduardo Azeredo quer que o país esqueça que descobriu Marcos Valério. Candidato à reeleição em 1998, o então governador de Minas recorreu aos serviços do publicitário que conheceria a fama depois de ter conhecido Delúbio Soares. O PSDB continua a fazer de conta que Azeredo não rima com mensalão. Terá de abrir o bico quando o procurador-geral da República abrir o que já descobriu. 

Assassino de
 
estimação 
Em 2004, por motivos fú- teis, o promotor substituto Thales Ferri Schoedl sacou o revólver, fez 12 disparos, matou um estudante e feriu outro. Mas é um bom companheiro, decidiu o Órgão Especial do Ministério Público paulista, que o efetivou no cargo vitalício. O jovem homicida vai ganhar R$ 10.500 mensais para defender a lei na comarca de Jales. Melhor que se licencie quando estiver em julgamento qualquer caso de assassinato. Um réu mais abusado pode chamá-lo de "colega". 

O libertador dos
 
bons bandidos 
Em julho, graças aos esfor- ços do defensor públicoEduardo Quintanilha, Elizeu Felício de Souza, um dos matadores do jornalista Tim Lopes, foi autorizado pela Justiça a matar a saudade da família. Preso havia cinco anos e 25 dias, o bandido resolveu cair no mundo e enforcar oresto da pena (25 anos de reclusão). "A indicação que eutinha, como o próprio juiz que deferiu a medida, era de que o Elizeu estava ressocializado", declamou Quintanilha.Deveria ter convidado Elizeu para jantar em casa. 

Yolhesman
 
Crisbelles 
Uma pesada troca de in- sultos entre Almeida Lima(PMDB-SE) e Tasso Jereissati (PSDB-CE) animou naquinta-feira a reunião do Conselho de Ética do Senado, suspensa quando os desafetos ameaçaram sair no tapa. Reaberta a sessão, o sergipano buscou a taça com adeclaração tranqüilizadora: 
Nem chegamos a agres- sões físicas. Coisas assimacontecem nas melhores casas legislativas. 
E, com menos freqüência, nas casas de tolerância.

MINHA CONTRIBUIÇÃO AO DEBATE DO 3º CONGRESSO DO PT

MINHA CONTRIBUIÇÃO AO DEBATE DO 3º CONGRESSO DO PT
02.09, 17h02
por Paulo Moura, cientista político

Nessa manhã de domingo, findo o mês do cachorro louco, que terminou mordendo 40 ladrões; pensava levar meu filho à 29ª Expointer, a feira internacional do agronegócio. Choveu. O domingo é cinza; melancólico. Bateu-me um sentimento de nostalgia ... Comecei a lembrar-me dos meus 20 anos, quando o PT nascia e eu fazia já uns 3 anos de militância estudantil, acreditando que o socialismo era via para a Liberdade. Afinal, lutávamos pela volta das liberdades democráticas" acreditava eu. Mas tempo e o convívio com o petismo me ensinaram o que é stalinismo e o que é trotskismo, sua versão ortodoxa. O tempo, a experiência e a razão me mostraram que, em política fala-se com gestos; atitudes. A retórica omite o que quer e evidencia o que se quer induzir a acreditar; sabe-se disso, aprendi, desde Aristóteles.

Gastei mais uns anos acreditando dava para endireitar a esquerda; até que caiu a ficha. Naquela época não existia celular pré-pago e estudante pé-rapado telefonava de orelhão. Senti que precisava estudar mais e militar menos. Como pude cair na conversa fiada dessa gente? 

Larguei então a vida apostólica de salvador da humanidade. Resolvi que tinha que salvar a mim mesmo e aos meus. Se conseguisse, minha passagem por esta vida já estaria de bom tamanho. Trilhar o bom caminho será minha contribuição para o bem da humanidade, concluí. Voltei a estudar. E não parei mais. Aprendi muita coisa desde então. Com esse domingo cinza, repassei a semana em busca de assunto para esse artigo. Recaída apostólica. Deve ser herança da educação católica. Nas manchetes, o STF e os 40 ladrões; e o 3º Congresso do PT.

Se tiver gente seguindo essa gente com a minha ingenuidade de adolescente, pensei, quem sabe se eu publicar algo sobre o que aprendi estudando ...? Resolvi apresentar mina tese ao 3º Congresso do PT. Leio na imprensa que Zé Dirceu fará maioria outra vez. Minha tese não passa da porta de entrada da secretaria geral do partido. Mesmo assim, vou tentar. Vamos lá, não custa tentar. Bendita internet.

Uma das minhas primeiras descobertas e o livro "Capitalismo Socialismo e Democracia", de Joseph Schumpeter. Nessa obra, pela primeira vez, alguém colocou em questão a relação dos marxistas com a Democracia. Schumpeter foi um dos mais importantes economistas do século XX. Nascido em 1883 no ano de morte de Marx, publicou esse livro em 1942, e liquidou com o conceito marxista da ditadura do proletariado. Segundo ele, desde 1916, véspera da Revolução Russa, a ausência de uma definição de Democracia na teoria marxista tornou-se relevante, embora os socialistas sempre se dissessem os únicos e verdadeiros democratas. 

De acordo com os Marx, a propriedade privada sobre os meios de produção é o que habilita a burguesia para explorar o trabalho e para impor seus interesses de classe sobre a sociedade. Logo, o poder político da burguesia aparece como uma forma particular de poder econômico. Portanto, não poderia existir democracia enquanto existisse este poder econômico. A democracia política, assim, seria uma farsa, e a ser eliminada para os socialistas poderem acabar com a "exploração do homem pelo homem".

Schumpeter contesta estas idéias, que viraram senso comum na tradição socialista. É impossível reduzir o poder individual ou de grupos a termos unicamente econômicos dizia. Inexiste uma linha sequer sobre a relação entre socialismo e democracia na teoria marxista. Os marxistas precisam definir claramente o modus operandi de um governo democrático sob o regime socialista. O socialismo, em tese, poderia ser o ideal da democracia, mas os socialistas nunca especificaram o caminho pelo qual seus slogans se aplicariam no terreno prático. As palavras "revolução" e "ditadura" são recorrentes nos textos "sagrados" do marxismo. 

Os precursores do pensamento socialista e seus discípulos; acusava Schumpeter, nunca apresentaram objeções à idéia de conquista do paraíso comunista pela violência e o terror. O recurso à violência, é defendido como via temporária legítima para a conversão da sociedade à "verdadeira" democracia". A teoria marxista da luta de classes, incrementada por Lênin a partir da Revolução Russa, dizia que a revolução necessita do esforço de uma minoria para impor-se sobre o povo recalcitrante. No Manifesto Comunista Marx fala de expropriar a burguesia e sobre o desaparecimento das distinções de classe, idéias que trazem implícito o recurso à "força", sob a vigência da "ditadura do proletariado".

Se Marx acreditasse na democracia em seus procedimentos, isso deveria ser explicitado na sua teoria. Justificar a aceitação de procedimentos antidemocráticos implica em comprovar a aceitação desses valores como instrumentos legítimos de luta política. Há explícita na teoria leninista a idéia de a vanguarda revolucionária profissional é a "expressão consciente da vontade inconsciente das massas". Os socialistas, portanto, deveriam forçar o povo a aceitar algo desejável, mas que o povo não quer, ainda que possa vir a gostar ao experimentar. O caráter antidemocrático do socialismo já estava comprovado no início dos anos 1940, 23 anos após a revolução na Rússia de Lênin, Trotski e Joseph Stalin.

Qualquer argumento a favor do "adiamento" da democracia, dizia Schumpeter, ainda que por um período transitório, constitui-se em pretexto para a ditadura. A história comprova, isso tanto nos regimes socialistas implantados no mundo, com nos regimes autoritários de direita. O mesmo se comprova nas relações internas dos partidos comunistas. As teses reformistas do SPD alemão, no do século XX, em defesa da implantação do socialismo pela reforma do capitalismo, através da luta política democrática, foi tachada de "revisionista" e de traição ao proletariado pelos marxistas ortodoxos.

Depois de Schumpeter, nenhum dos autores que se dedicaram a estudos sobre a democracia era adepto do marxismo. Intelectuais socialistas somente começaram a se preocupar com reflexões sobre a democracia na década de 1970, quando, finalmente admitiram o fracasso do socialismo real. 

Nos meus estudos, uma das minhas descobertas foi o cientista político Robert Dahl. No livro Poliarquia, Dahl define a democratização como um processo progressivo de ampliação da participação política e da competição pelo poder. Esses dois indicadores oferecem critérios para classificar os regimes políticos segundo sua maior ou menor aproximação do ideal democrático. Para ele, o grau de competição e participação dos atores políticos dentro de um regime, define o grau de democratização do regime. Mas, o que mais me marcou na leitura de Dahl foi a afirmação de que, num regime democrático, jamais se deve permitir que um força política detenha sozinha o monopólio do poder, pois, nessa situação, eles eliminarão a liberdade e a democracia, e os competidores, e necessariamente buscarão a perpetuação no poder. 

Os escritos nunca refutados de Maquiavel, em "O Príncipe" (publicado no início do século XVI), concordaria. Há implícita a essa afirmação de Dahl, uma leitura hobbesiana da natureza humana. Para Hobbes, "o homem é o lobo do homem". Por isso, sem o temor à punição do Estado (o Leviatã), os homens imporão sua vontade como animais. Hobbes era um defensor do Absolutismo e viveu numa época em que a força imperativa dos reis era condição para a submissão dos senhores feudais a um poder máximo, capaz de unificar a força os estados nacionais nascentes. Na teoria marxista, o socialismo como via de transição para o comunismo, se equivaleria ao que o Absolutismo foi como regime de transição para o capitalismo e a democracia "burguesa".

Para Dahl, só quem pode conter o apetite autoritário dos animais políticos, são seus competidores pelo poder, legitimados pela participação política da sociedade, num sistema democrático. O alicerce da democracia, portanto, está na sociedade e não no Estado. Logo, quanto mais concentrado o poder nas mãos do Estado, especialmente se controlado pelo monopólio de um grupo, menos democrático o regime. E, quanto mais distribuído o poder nas mãos dos atores políticos, mais democrático o regime.

A democracia mantém-se pelo equilíbrio de forças na competição pelo poder, e deve estar consubstanciada na lei. E a lei deve definir sua vigência pela garantia da Liberdade de organização e Expressão; o direito de voto e a elegibilidade; o direito à competição pelo apoio da sociedade; o direito de disputa pelos votos da maioria e de acesso a fontes alternativas de informação; a ocorrência periódica de eleições livres e idôneas; e a existência de instituições que garantam a preservação desse sistema e de outras manifestações de preferência. (Poliarquia, p. 27)

Qualquer tentativa de cerceamento dessas liberdades é golpe contra a democracia; é evidência de vocação autoritária. Pode ser que alguém discorde do conceito de Dahl sobre a democracia. Difícil é discordar é discordar de seus critérios de definição sobre vocações autoritárias. A teoria de Dahl influenciou decisivamente a mudança de posição dos EUA em relação às ditaduras incentivadas e apoiadas pelo governo norte-americano nas décadas de 1960 e 1970, a pretexto de conter o avanço do comunismo no mundo.

Desconfio que o camarada Joseph Dirceu vetará minha tese no 3º Congresso do PT. Por isso, defino-a como "tese paralela".

MINHA CONTRIBUIÇÃO AO DEBATE DO 3º CONGRESSO DO PT

MINHA CONTRIBUIÇÃO AO DEBATE DO 3º CONGRESSO DO PT
02.09, 17h02
por Paulo Moura, cientista político

Nessa manhã de domingo, findo o mês do cachorro louco, que terminou mordendo 40 ladrões; pensava levar meu filho à 29ª Expointer, a feira internacional do agronegócio. Choveu. O domingo é cinza; melancólico. Bateu-me um sentimento de nostalgia ... Comecei a lembrar-me dos meus 20 anos, quando o PT nascia e eu fazia já uns 3 anos de militância estudantil, acreditando que o socialismo era via para a Liberdade. Afinal, lutávamos pela volta das liberdades democráticas" acreditava eu. Mas tempo e o convívio com o petismo me ensinaram o que é stalinismo e o que é trotskismo, sua versão ortodoxa. O tempo, a experiência e a razão me mostraram que, em política fala-se com gestos; atitudes. A retórica omite o que quer e evidencia o que se quer induzir a acreditar; sabe-se disso, aprendi, desde Aristóteles.

Gastei mais uns anos acreditando dava para endireitar a esquerda; até que caiu a ficha. Naquela época não existia celular pré-pago e estudante pé-rapado telefonava de orelhão. Senti que precisava estudar mais e militar menos. Como pude cair na conversa fiada dessa gente? 

Larguei então a vida apostólica de salvador da humanidade. Resolvi que tinha que salvar a mim mesmo e aos meus. Se conseguisse, minha passagem por esta vida já estaria de bom tamanho. Trilhar o bom caminho será minha contribuição para o bem da humanidade, concluí. Voltei a estudar. E não parei mais. Aprendi muita coisa desde então. Com esse domingo cinza, repassei a semana em busca de assunto para esse artigo. Recaída apostólica. Deve ser herança da educação católica. Nas manchetes, o STF e os 40 ladrões; e o 3º Congresso do PT.

Se tiver gente seguindo essa gente com a minha ingenuidade de adolescente, pensei, quem sabe se eu publicar algo sobre o que aprendi estudando ...? Resolvi apresentar mina tese ao 3º Congresso do PT. Leio na imprensa que Zé Dirceu fará maioria outra vez. Minha tese não passa da porta de entrada da secretaria geral do partido. Mesmo assim, vou tentar. Vamos lá, não custa tentar. Bendita internet.

Uma das minhas primeiras descobertas e o livro "Capitalismo Socialismo e Democracia", de Joseph Schumpeter. Nessa obra, pela primeira vez, alguém colocou em questão a relação dos marxistas com a Democracia. Schumpeter foi um dos mais importantes economistas do século XX. Nascido em 1883 no ano de morte de Marx, publicou esse livro em 1942, e liquidou com o conceito marxista da ditadura do proletariado. Segundo ele, desde 1916, véspera da Revolução Russa, a ausência de uma definição de Democracia na teoria marxista tornou-se relevante, embora os socialistas sempre se dissessem os únicos e verdadeiros democratas. 

De acordo com os Marx, a propriedade privada sobre os meios de produção é o que habilita a burguesia para explorar o trabalho e para impor seus interesses de classe sobre a sociedade. Logo, o poder político da burguesia aparece como uma forma particular de poder econômico. Portanto, não poderia existir democracia enquanto existisse este poder econômico. A democracia política, assim, seria uma farsa, e a ser eliminada para os socialistas poderem acabar com a "exploração do homem pelo homem".

Schumpeter contesta estas idéias, que viraram senso comum na tradição socialista. É impossível reduzir o poder individual ou de grupos a termos unicamente econômicos dizia. Inexiste uma linha sequer sobre a relação entre socialismo e democracia na teoria marxista. Os marxistas precisam definir claramente o modus operandi de um governo democrático sob o regime socialista. O socialismo, em tese, poderia ser o ideal da democracia, mas os socialistas nunca especificaram o caminho pelo qual seus slogans se aplicariam no terreno prático. As palavras "revolução" e "ditadura" são recorrentes nos textos "sagrados" do marxismo. 

Os precursores do pensamento socialista e seus discípulos; acusava Schumpeter, nunca apresentaram objeções à idéia de conquista do paraíso comunista pela violência e o terror. O recurso à violência, é defendido como via temporária legítima para a conversão da sociedade à "verdadeira" democracia". A teoria marxista da luta de classes, incrementada por Lênin a partir da Revolução Russa, dizia que a revolução necessita do esforço de uma minoria para impor-se sobre o povo recalcitrante. No Manifesto Comunista Marx fala de expropriar a burguesia e sobre o desaparecimento das distinções de classe, idéias que trazem implícito o recurso à "força", sob a vigência da "ditadura do proletariado".

Se Marx acreditasse na democracia em seus procedimentos, isso deveria ser explicitado na sua teoria. Justificar a aceitação de procedimentos antidemocráticos implica em comprovar a aceitação desses valores como instrumentos legítimos de luta política. Há explícita na teoria leninista a idéia de a vanguarda revolucionária profissional é a "expressão consciente da vontade inconsciente das massas". Os socialistas, portanto, deveriam forçar o povo a aceitar algo desejável, mas que o povo não quer, ainda que possa vir a gostar ao experimentar. O caráter antidemocrático do socialismo já estava comprovado no início dos anos 1940, 23 anos após a revolução na Rússia de Lênin, Trotski e Joseph Stalin.

Qualquer argumento a favor do "adiamento" da democracia, dizia Schumpeter, ainda que por um período transitório, constitui-se em pretexto para a ditadura. A história comprova, isso tanto nos regimes socialistas implantados no mundo, com nos regimes autoritários de direita. O mesmo se comprova nas relações internas dos partidos comunistas. As teses reformistas do SPD alemão, no do século XX, em defesa da implantação do socialismo pela reforma do capitalismo, através da luta política democrática, foi tachada de "revisionista" e de traição ao proletariado pelos marxistas ortodoxos.

Depois de Schumpeter, nenhum dos autores que se dedicaram a estudos sobre a democracia era adepto do marxismo. Intelectuais socialistas somente começaram a se preocupar com reflexões sobre a democracia na década de 1970, quando, finalmente admitiram o fracasso do socialismo real. 

Nos meus estudos, uma das minhas descobertas foi o cientista político Robert Dahl. No livro Poliarquia, Dahl define a democratização como um processo progressivo de ampliação da participação política e da competição pelo poder. Esses dois indicadores oferecem critérios para classificar os regimes políticos segundo sua maior ou menor aproximação do ideal democrático. Para ele, o grau de competição e participação dos atores políticos dentro de um regime, define o grau de democratização do regime. Mas, o que mais me marcou na leitura de Dahl foi a afirmação de que, num regime democrático, jamais se deve permitir que um força política detenha sozinha o monopólio do poder, pois, nessa situação, eles eliminarão a liberdade e a democracia, e os competidores, e necessariamente buscarão a perpetuação no poder. 

Os escritos nunca refutados de Maquiavel, em "O Príncipe" (publicado no início do século XVI), concordaria. Há implícita a essa afirmação de Dahl, uma leitura hobbesiana da natureza humana. Para Hobbes, "o homem é o lobo do homem". Por isso, sem o temor à punição do Estado (o Leviatã), os homens imporão sua vontade como animais. Hobbes era um defensor do Absolutismo e viveu numa época em que a força imperativa dos reis era condição para a submissão dos senhores feudais a um poder máximo, capaz de unificar a força os estados nacionais nascentes. Na teoria marxista, o socialismo como via de transição para o comunismo, se equivaleria ao que o Absolutismo foi como regime de transição para o capitalismo e a democracia "burguesa".

Para Dahl, só quem pode conter o apetite autoritário dos animais políticos, são seus competidores pelo poder, legitimados pela participação política da sociedade, num sistema democrático. O alicerce da democracia, portanto, está na sociedade e não no Estado. Logo, quanto mais concentrado o poder nas mãos do Estado, especialmente se controlado pelo monopólio de um grupo, menos democrático o regime. E, quanto mais distribuído o poder nas mãos dos atores políticos, mais democrático o regime.

A democracia mantém-se pelo equilíbrio de forças na competição pelo poder, e deve estar consubstanciada na lei. E a lei deve definir sua vigência pela garantia da Liberdade de organização e Expressão; o direito de voto e a elegibilidade; o direito à competição pelo apoio da sociedade; o direito de disputa pelos votos da maioria e de acesso a fontes alternativas de informação; a ocorrência periódica de eleições livres e idôneas; e a existência de instituições que garantam a preservação desse sistema e de outras manifestações de preferência. (Poliarquia, p. 27)

Qualquer tentativa de cerceamento dessas liberdades é golpe contra a democracia; é evidência de vocação autoritária. Pode ser que alguém discorde do conceito de Dahl sobre a democracia. Difícil é discordar é discordar de seus critérios de definição sobre vocações autoritárias. A teoria de Dahl influenciou decisivamente a mudança de posição dos EUA em relação às ditaduras incentivadas e apoiadas pelo governo norte-americano nas décadas de 1960 e 1970, a pretexto de conter o avanço do comunismo no mundo.

Desconfio que o camarada Joseph Dirceu vetará minha tese no 3º Congresso do PT. Por isso, defino-a como "tese paralela".

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