A razão e as paixões
O historiador Niall Ferguson é mais um na larga lista
dos sábios que agem como tolos na vida privada
Bruno Meier
Jemal Countess/Wireimages |
SÓ CORAÇÃO Ferguson e a namorada, Ayaan Hirsi Ali: ele corre o risco de ser depenado num divórcio |
A ideia de que a inteligência consegue domar as paixões é tão antiga quanto a filosofia grega - e nunca se comprovou. Bem ao contrário. Aqueles que se dedicam seriamente a cultivar o intelecto são com frequência os que se rendem de maneira mais espalhafatosa aos seus (maus) instintos. Veja-se o caso do historiador escocês Niall Ferguson, de 45 anos. Na última década, ele se tornou uma grande autoridade em história da economia. A revista Time o classificou como um dos pensadores mais influentes do mundo. Na semana passada, contudo, as infidelidades de Ferguson vieram a primeiro plano. Aparentemente encantado com o próprio sucesso (a razão sucumbindo às paixões...), ele desenvolveu hábitos de mulherengo e embarcou numa série de casos extraconjugais. O atual é com a escritora Ayaan Hirsi Ali, uma somali que os radicais muçulmanos juraram assassinar: submetida na infância a uma mutilação religiosa - a excisão do clitóris -, Ayaan tornou-se, com o tempo, umas das mais acerbas críticas do islamismo. Ferguson entregou-se de maneira tão inconsequente e pública ao namoro que sua mulher, humilhada, agora só pensa em retaliar: tudo indica que o professor de finanças vai ser depenado num divórcio milionário.
De fato, não são incomuns os escândalos e trapaças protagonizados por intelectuais. Na década de 40, por exemplo, todo mundo parava para comentar as baixarias entre o escritor americano Ernest Hemingway e sua mulher, a jornalista Martha Gellhorn. A rotina só se encerrou quando Hemingway passou a perna em Martha, fazendo-se contratar em seu lugar por uma revista. Martha, finalmente, tomou vergonha e se separou. Norman Mailer, outro grande da literatura americana, chegou a esfaquear a segunda de suas seis mulheres e, no fim da vida, era quase mais lembrado por gastar dinheiro com pensões do que por sua contribuição às letras do século XX. Escabroso, também, foi o caso do cineasta Woody Allen, que, em 1992, acabou posto para fora de casa por sua mulher, a atriz Mia Farrow, quando ela descobriu que o marido possuía fotos de uma das filhas adotivas do casal, Soon-Yi Prévin, nua. A história resultou num dos divórcios mais ruidosos das últimas décadas. Mentes brilhantes, comportamento infame. Essa é a galeria em que o economista Niall Ferguson entrou.