Saturday, June 19, 2010

Europa Futebol Clube


Ter jogadores em clubes das principais ligas é meio
caminho andado para o sucesso internacional


Carlos Maranhão e Fábio Altman, de Johannesburgo

Fotos Paulo Vitale e Gero Breloer/AP
Messi e Cacau (à dir.): o argentino e o brasileiro naturalizado alemão hoje são legítimos europeus


A que atribuir o mau desempenho da seleção da África do Sul nas duas primeiras partidas da Copa, empate em 1 a 1 com o México e derrota de 3 a 0 para o Uruguai? O treinador Carlos Alberto Parreira encontrou a resposta: falta de jogadores atuando em equipes da Europa. "Lá eles aprendem a ter malícia e senso de colocação, a ser profissionais, a adquirir hábitos de uma nova vida", disse Parreira a VEJA. Entre os 23 atletas dos Bafana Bafana, não mais que sete (três titulares) têm contrato com clubes do exterior. Na seleção de Dunga, há vinte na Europa. A Argentina de Maradona reúne dezesseis.

Tentou-se vender a Copa de 2010 como um torneio africano capaz de aproximar da taça, pela primeira vez, times alegres e "peladeiros", segundo um batido jargão. "É preconceito imaginar os jogadores africanos dessa maneira, divertidos e exóticos", afirma o historiador Peter Alegi, professor de história da África na Universidade do Estado de Michigan. Virou imagem desgastada. O futebol, hoje, é sinônimo de Europa. Apenas o Chelsea, da Inglaterra, está representado por doze jogadores na Copa. Das seis seleções do continente na disputa, só a da Argélia é dirigida por um nativo. Nas outras há dois suecos, um francês, um sérvio e um brasileiro, admirador da escola italiana.

O fenômeno da europeização tem origem econômica. Em 2009, o faturamento dos torneios europeus chegou a 15,7 bilhões de euros. Metade desse total vem dos campeonatos da Inglaterra, Espanha, Itália, Alemanha e França. Os jogadores procuram o exílio dourado porque ele pode lhes dar celebridade e fortuna às vezes desde a adolescência (o argentino Messi foi para o Barcelona com 13 anos). O brasileiro Cacau, naturalizado alemão, autor de um dos gols nos 4 a 0 contra a Austrália, emigrou com 18 anos e teve duplo sucesso: além de assinar bons contratos, conseguiu ir ao Mundial, sonho que seria remoto caso ainda jogasse no Brasil. As histórias de Messi e Cacau – tão distantes na fama e na habilidade – traduzem o futebol atual, feito de expatriados milionários.

Com reportagem de Alexandre Salvador


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