Gorjeta
Todo mundo quer um serviço rápido e atencioso. Quando ele é oferecido, é natural que haja uma retribuição. A prática da gorjeta varia de país para país. Nos Estados Unidos e na França, por exemplo, ela é uma obrigação social: negar-se a dá-la num restaurante, por exemplo, é um ato de grosseria extrema. Já no Japão, oferecer gratificação em dinheiro a garçons ou taxistas é uma ofensa. No Brasil, não existe obrigação implícita – mas a gorjeta é com frequência esperada. Há duas regras básicas. Primeiro, a bonificação depende da satisfação do cliente; se o serviço não agradou, não há por que gratificar. Regra número 2: "Com exceção dos hotéis, caixinha antecipada não é gorjeta, é suborno", diz a consultora de etiqueta Elisabeth Guirao. Com a ajuda de entidades de classe e consultores de etiqueta, VEJA chegou a situações e valores que bonificam sem exagero – ou sem ofender quem prestou o serviço NO RESTAURANTE A quem dar: aos garçons NO SALÃO DE BELEZA A quem dar: a cabeleireiros, assistentes, manicures, depiladores, maquiadores. Caixinha para NO HOTEL A quem dar: a carregadores de malas e camareiras NO POSTO DE COMBUSTÍVEL A quem dar: a frentistas e lavadores de carro NO TÁXI Quando dar: no Brasil, não é obrigatória. Se a conversa alongada do taxista não agradou, não há por que deixar-lhe um agrado. "É mais lucrativo o cliente voltar a pedir o mesmo táxi do que deixar uma gorjeta", diz Natalício Bezerra, presidente do Sindicato dos Taxistas de São Paulo EM CASA A quem dar: a entregadores de pizza e outras refeições NO SUPERMERCADO A quem dar: aos empacotadores NO ESTACIONAMENTO A quem dar: a manobristas de estacionamentos e serviços de valet
Quando e quanto darA versão mais comum para a origem da gorjeta remete
à Inglaterra do século XVII: tip, em inglês, seria a sigla
para a expressão "to insure promptitude",
ou "para garantir prontidão".
Anna Paula BuchallaIlustrações Paladino
Quando dar: a maioria dos restaurantes inclui na conta a taxa de serviço, que, por falta de regulamentação, pode ser até maior do que os tradicionais 10% – o valor fica a critério do estabelecimento. Recentemente, criou-se uma polêmica sobre o destino da gorjeta nos bares e restaurantes. Há mais de 7 000 ações em todo o país propostas por funcionários que alegam que o dinheiro não seria repassado integralmente a eles. Os donos dos estabelecimentos argumentam que parte da gorjeta serve para cobrir gastos de manutenção da casa, como louças quebradas. Outros afirmam que incorporam o valor no contracheque, o que os exoneraria do repasse direto. Enquanto a controvérsia não se resolve, a recomendação a quem quer ter certeza de que uma quantia extra vai para o bolso de garçons, cozinheiros e ajudantes é entregá-la, em dinheiro, a quem atendeu à mesa
Quanto dar: 10%
O que dizem as consultoras de etiqueta: o cúmulo da deselegância? Em festas de casamento, dar dinheiro ao garçom logo na chegada para garantir que não vai faltar nada à mesa
os donos de salão, jamais. Nesse caso, o cliente pode optar por um presente em uma data especial, como aniversário ou Natal
Quando dar: sempre que for ao salão. Mas quem frequenta o mesmo salão toda semana pode substituir a gorjeta por um presentinho de vez em quando. Por exemplo, quando fizer uma viagem ao exterior, traga um esmalte ou uma escova diferente para o profissional. "Além do presente, ele se sentirá feliz por ter sido lembrado durante a viagem", diz a esteticista Maria Hellmeister, presidente do Sindebeleza, o sindicato da categoria em São Paulo
Quanto dar: 10% do serviço
O que dizem as consultoras de etiqueta: em vez de dar dinheiro a cada profissional que o atende, o cliente pode acrescentar os 10% à conta e especificar à recepcionista ou ao gerente como a gorjeta deve ser distribuída, sem constrangimento
Quando dar: sempre, no caso dos carregadores de malas. O valor deve ser proporcional ao esforço, considerando a quantidade de malas e a distância percorrida (uma mala pequena de rodinhas puxada da recepção para o elevador e dali para o quarto não é exatamente uma prova de resistência). Para as camareiras, deixe principalmente se permanecer por mais de uma semana hospedado
Quanto dar: em hotéis médios, 5 reais, e, nos luxuosos, entre 10 e 20 reais, tanto para carregadores quanto para camareiras. Para o concierge, a gorjeta pode partir de 10 reais e aumentar proporcionalmente ao favor que ele prestou
O que dizem as consultoras de etiqueta: no exterior, os funcionários de hotéis consideram uma obrigação dos hóspedes dar gorjeta. E não aceitam trocados. "Um carregador de malas de um hotel em Nova York ficou irritado e não aceitou os 3 dólares que ofereci", conta Ligia Marques
Quando dar: aos lavadores, sempre. O dinheiro extra vai para uma caixinha e é dividido entre eles no fim do dia. Quanto aos frentistas, dar ou não gorjeta depende do que é solicitado. Se o serviço for completo, com calibragem de pneus, limpeza do para-brisa e checagem do nível de óleo, ela é obrigatória e tem de ser mais polpuda. Se o frentista só abastecer o tanque, o valor fica a critério do motorista. Em geral, se é um posto que se frequenta e o funcionário é conhecido do cliente, vale arredondar a conta. Em vez de deixar a caixinha no total pago no cartão, prefira dá-la em dinheiro. Nem sempre a gratificação é repassada ao funcionário
Quanto dar: 2 reais para abastecimento e até 10 reais quando o serviço é maior
O que dizem as consultoras de etiqueta: quem abastece sempre no mesmo estabelecimento não precisa deixar gorjeta todas as vezes que entra no posto. O cliente pode dar um valor menor de vez em quando e caprichar na caixinha de Natal
Quanto dar: arredondar o valor da corrida para cima agrada duas vezes: facilita o troco e engorda a caixinha
O que dizem as consultoras de etiqueta: embora a gorjeta aos taxistas brasileiros não seja comum, em muitos países ela é quase obrigatória. O valor gira em torno de 10%. "Nos Estados Unidos, taxistas de Nova York esperam receber entre 15% e 20% do valor da corrida", diz Claudia Matarazzo
Quando dar: sempre. Além do salário baixo, o entregador embolsa apenas 50% da taxa de entrega quando ela é cobrada. A outra metade fica com a empresa ou cooperativa de motoboys contratada pela pizzaria ou pelo restaurante
Quanto dar: entre 2 e 5 reais
O que dizem as consultoras de etiqueta: não convém economizar em gorjetas a motoboys. É um trabalho eficiente – difícil, corrido e arriscado. Segundo o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Motociclistas da Cidade de São Paulo (Sindimoto), Aldemir Martins de Freitas, moradores da periferia dão mais gorjetas do que os de bairros nobres. "Eles são mais solidários", afirma
Quando dar: sempre, a não ser que a compra seja pequena, com menos de dez produtos. Se o volume é maior e o empacotador leva as compras para o carro ou para casa, retribua a ajuda
Quanto dar: entre 2 e 10 reais
O que dizem as consultoras de etiqueta: algumas redes de supermercados contratam idosos para empacotar as compras e ajudar o cliente a levá-las para o carro. Nesse caso, não economize na gorjeta
Quando dar: os manobristas não costumam esperar gorjetas, portanto o agrado sempre é bem recebido. "Quando o manobrista é gentil e atencioso, é simpático retribuir com uma gorjeta mais generosa", diz Ligia Marques
Quanto dar: de 1 a 2 reais nos estacionamentos pagos e entre 3 e 5 reais nos serviços gratuitos
O que dizem as consultoras de etiqueta: a gorjeta pode ser uma forma de ser sempre bem atendido naqueles lugares em que o cliente é reconhecido pela frequência das visitas