Bombinha diplomática
Hillary Clinton, a secretária de Estado do governo mais poderoso do planeta, riscou seis dias da sua agenda mais apimentada para fazer uma excursão pela América Latina. Prestou solidariedade às vítimas do terremoto no Chile, conheceu o novo presidente do Uruguai e fez uma ronda pela sempre amigável Costa Rica. No meio do caminho, dedicou 29 horas ao Brasil. A secretária de Estado chegou a Brasília na noite de terça e deixou o Brasil por São Paulo na madrugada de quarta. Foi a primeira vez que um representante graduado do governo Obama esteve no país. O primeiro encontro foi fugaz e chocho, o que se nota pelas declarações mornas de ambas as partes, restritas à polidez protocolar do discurso diplomático. A questão de como lidar com o Irã, aquele mistério teocrático envolto em um enigma nuclear, divide Brasil e Estados Unidos. Mas nem isso deu mais calor à visita de Hillary. Cada lado externou sua posição, e ficou por isso mesmo. Os Estados Unidos querem diálogo e pressões sobre a cúpula de poder da república islâmica ditatorial, formada por clérigos e militares fiéis ao presidente Mahmoud Ahmadinejad. O mundo inteiro teme que essa mistura já explosiva se torne um pesadelo caso o Irã obtenha armas atômicas. A Agência Internacional de Energia Atômica informa que o país está cada vez mais perto de construir bombas nucleares. Ahmadinejad tem como objetivo público e declarado "varrer Israel do mapa". Sem a bomba, ele não consegue. Com a bomba, pode até tentar, mas seriam dois os países a sumir do mapa, Israel e Irã. Enfim, o mundo civilizado, o Conselho de Segurança da ONU e todos os governantes ajuizados pensam que o volátil equilíbrio no Oriente Médio desaconselha uma corrida armamentista nuclear na região. As exceções são o Itamaraty e Lula. Para eles, o Irã pode ser demovido de sua intenção belicista nuclear apenas pela conversa. Onde o mundo falhou, Lula e Amorim acham que podem ter sucesso. Há duas explicações para o curso tomado pela diplomacia brasileira. A primeira é o alinhamento automático com tudo e todos os que sejam hostis aos Estados Unidos. A esse automatismo cego, eles chamam de política externa independente. A segunda é a tentativa de aprofundamento das relações comerciais com o Oriente Médio, no que ser simpático ao Irã ajuda. "Nós acreditamos que ainda há oportunidade de chegar a um acordo", disse o chanceler Celso Amorim sobre o Irã. O diplomata Cláudio Luiz dos Santos Rocha foi embaixador em Teerã por cinco anos. Saiu de lá em 2001, convencido de que conversa não vai resolver nada: "Eles se acham no direito de ter armas nucleares e são inflexíveis no diálogo".A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, veio ao Brasil
em busca de apoio para desarmar a encrenca chamada Irã.
Levou só aperto de mão e foto posada
Sofia KrauseEraldo Peres/AP FRÁGIL UNIÃO
O sorriso aberto de Hillary não quebrou o gelo ideológico lulista