Arruda no tempo em que reinava
Uma saleta de 10 metros quadrados na Superintendência da Polícia Federal em Brasília, com nada mais que um beliche, um pequeno sofá de dois lugares e uma mesa, continuará sendo o endereço do governador afastado do Distrito Federal, José Roberto Arruda, preso há três semanas. Na última quinta-feira, o Supremo Tribunal Federal (STF) indeferiu o pedido de habeas corpus da defesa do governador, por ainda considerá-lo uma ameaça às investigações do mensalão de Brasília. Para nove ministros do STF, a tentativa de subornar uma testemunha é evidência de que, uma vez em liberdade, Arruda continuará a perpetrar esforços para impedir o trabalho da Justiça. Apenas o ministro José Antonio Dias Toffoli votou a favor do governador afastado. Na esfera política, Arruda sofreu outro golpe. A Câmara Legislativa do DF aprovou por unanimidade o pedido de impeachment. O governador terá vinte dias para apresentar sua defesa, mas dificilmente o relatório final vai poupá-lo do processo de cassação. Em três anos de governo, Arruda construiu uma imagem de administrador austero. Chegou ao poder com o discurso de empregar um choque de gestão, anunciando a extinção de 16 000 cargos comissionados. Era, sabe-se agora, um clássico cavalo de troia. À medida que as investigações avançam, fica mais evidente a distância que havia entre o discurso do governador e a prática. Uma lista apreendida pela Polícia Federal revelou que Arruda usava e abusava dos métodos ortodoxos empregados pela politicagem tradicional. Nela aparecem nomes de amigos ao lado da cota de cargos que cada um tinha para distribuir. São impressionantes 4 500 empregos, que iam das funções mais subalternas à direção de estatais. O fracionamento do estado entre os aliados do governador preso beneficiava empresários, presidentes de partido, senadores, deputados federais e dezenove dos 24 deputados distritais, incluindo seus suplentes. As cotas variavam de três a oitenta cargos per capita. É por essas e outras razões que começa a nascer em Brasília uma mobilização contra a intervenção federal solicitada pela Procuradoria-Geral da República. O movimento conta com o apoio de setores que sabem – e temem – o que ainda está por vir. Um dos investigadores do caso disse a VEJA que a caixa de Pandora brasiliense vai extrapolar as fronteiras da capital e o esquema de corrupção deve respingar em políticos importantes de outras cidades. Por isso, o melhor para a turma que saqueou o DF é lutar para preservar o controle da situação, cuja principal estratégia é manter na proa o atual governador em exercício, Wilson Lima (oitenta cargos). Como resume o deputado federal Bispo Rodovalho (trinta cargos): "A regra agora é lutar pela própria sobrevivência".O governador do DF vai continuar preso enquanto
o processo de impeachment caminha e as investigações detalham
como funcionava seu reino de corrupção, nepotismo e fisiologismo
Gustavo RibeiroAna Araujo NO TRONO, SEM REALEZA
José Roberto Arruda antes da prisão, em seu antigo gabinete:
de moderno mesmo, só os móveis• Cinecorrupção: imagens do mensalão