Saturday, November 14, 2009

O Símbolo Perdido, de Dan Brown

Uma ciência oculta

Como Dan Brown, em O Símbolo Perdido, mistura de novo os ingredientes – sociedades secretas, códigos enigmáticos, os subterrâneos de monumentos famosos e alguma elucubração filosófica – que o tornaram o maior best-seller da ficção adulta


Jerônimo Teixeira, de Exeter

Universo paralelo
O Capitólio, o afresco que o adorna

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As estantes envidraçadas no último andar da biblioteca da Academia Phillips Exeter exibem obras escritas por ex-alunos dessa tradicional instituição de ensino médio americana, fundada no século XVIII. É uma coleção heterogênea, com livros de história e de culinária, guias para criação dos filhos e biografias de personagens como o general Ulysses S. Grant. Escritores como Gore Vidal e John Irving destacam-se nas prateleiras. E também está lá um thriller com cores meios esotéricas que vendeu mais de 1 milhão de cópias nas suas primeiras 24 horas no mercado americano, em setembro – e que nesta semana chega às livrarias brasileiras. O Símbolo Perdido (tradução de Fernanda Abreu; Sextante; 496 páginas; 39,90 reais) é o quinto romance de Dan Brown, 45 anos, autor de um dos maiores fenômenos editoriais do século – O Código Da Vinci, que vendeu 80 milhões de exemplares no mundo todo (1,6 milhão só no Brasil).

Brown nasceu em Exeter – uma charmosa cidadezinha de cerca de 15.000 habitantes em New Hampshire, na Nova Inglaterra – e até hoje mora, com a mulher, em uma localidade próxima. Estudou na Academia Phillips, onde seu pai era professor de matemática. E, antes de se tornar o maior best-seller internacional da ficção adulta, chegou a dar aulas de inglês na escola. Foi, portanto, por razões afetivas que ele escolheu essa biblioteca como local para conversar com VEJA. Brown veste uma calça esporte e uma blusa Polo Ralph Lauren. Sobre a mesa da sala de conferências da biblioteca, deixou seu casaco de tweed, item obrigatório do figurino de seu herói, o professor de Harvard Robert Langdon. Também como Langdon, ele possui um relógio do Mickey Mouse – mas não o estava usando na entrevista. "Langdon tem muitas características minhas: tem um grande interesse intelectual por símbolos e códigos, estudou em Exeter, sofre de claustrofobia. Mas ele é mais inteligente e corajoso. E, claro, leva uma vida bem mais interessante", diz Brown.

Muito interessante, de fato: nos dois livros e filmes anteriores, Langdon – interpretado no cinema por Tom Hanks – sobreviveu à explosão de uma cápsula de antimatéria (nem pergunte o que é isso) e desvendou o mistério da descendência de Jesus Cristo. Em O Símbolo Perdido, ele se envolve em uma espécie de caça ao tesouro metafísica: tem de desvendar códigos e símbolos projetados pela maçonaria, para chegar ao esconderijo que abriga os Antigos Mistérios – a sabedoria ancestral que promete dar poderes sobre-humanos a seu detentor. Langdon e sua co-heroína, Katherine – uma pesquisadora da chamada "ciência noética", que pretende estudar os efeitos da mente sobre o mundo físico –, são acossados pelo vilão mais tenebroso já concebido por Brown: Mal’akh, um satanista alucinado cujo corpo musculoso é completamente tatuado com símbolos místicos.

Toda a história se passa em Washington, mas essa não é a capital americana que costuma aparecer no noticiário. "Não há política no livro. Mostrei a cidade que ninguém vê, repleta de mistérios, segredos e locais estranhos", diz o escritor. O Capitólio, sede do Congresso americano, transfigura-se em templo dos Antigos Mistérios. Uma mão amputada, com um anel maçônico e símbolos esotéricos tatuados na ponta dos dedos, é encontrada em um de seus salões. E, nos porões do Congresso, esconde-se uma pirâmide maçônica cujas inscrições crípticas são o centro da narrativa.

Essa é a fórmula que Brown experimentou em Anjos e Demônios e calibrou em O Código Da Vinci: uma história de mistério envolvendo uma sociedade secreta, códigos e enigmas, ação acelerada e o lado "oculto" de monumentos públicos famosos. Além de alguma especulação filosófico-religiosa. "Anjos e Demônios é sobre o embate entre ciência e religião. O Código Da Vinci apresenta uma perspectiva alternativa sobre a vida de Jesus e o Santo Graal. Já O Símbolo Perdido é sobre o poder da mente humana. É o mais filosófico dos meus livros", diz o autor. E há quem ache que os romances só pretendem distrair o leitor em suas horas de espera no aeroporto...

A ordem secreta de O Símbolo Perdido é a maçonaria. Muitos fundadores da nação americana – como George Washington, seu primeiro presidente – eram maçons, e os símbolos esotéricos da irmandade até hoje estão presentes na vida do país (o exemplo mais proeminente é a pirâmide com olho na nota de 1 dólar). Brown é bom em coletar miudezas históricas que se relacionam com seu tema central. O Símbolo Perdido faz referência, por exemplo, a uma das representações mais estranhas que já se fizeram de Washington: uma estátua de mármore esculpida por Horatio Greenough no século XIX representava o presidente como o deus grego Zeus, de toga, espada em uma das mãos, peito desnudo – e com os músculos salientes de um lutador de vale-tudo. A estátua esteve alguns anos no Congresso, mas acabou retirada de lá, segundo Brown (ou Langdon) porque seu ostensivo paganismo ofendia os congressistas cristãos. Um afresco do Capitólio, A Apoteose de Washington, também representa o primeiro presidente como uma espécie de Deus, alçando-se aos círculos celestes mais elevados. E está dado o mote para Brown desenvolver um dos temas mais caros ao novo livro: a divindade intrínseca de todo ser humano.

Divulgação

Herói de ação
Hanks como Langdon: o simbologista é um grande achado


Brown ainda dá um tremendo crédito à tal da "noética", com seus duvidosos estudos sobre poder mental. O escritor diz que demorou a aceitar as conclusões da nova disciplina, e que seu ceticismo é parcialmente responsável pelo tempo alongado – seis anos desde a publicação de O Código Da Vinci – que levou para escreverO Símbolo Perdido. Hoje, porém, está convencido: "A noética é uma ciência de verdade. Está estudando quantitativamente a influência do pensamento sobre o universo físico". Mais adiante na entrevista, porém, ele admite que os resultados ainda são escorregadios. "As grandes questões da filosofia são difíceis e etéreas", diz. Sim. De fato.

No geral, não é preciso comprar as teses esotéricas de Brown para divertir-se com O Símbolo Perdido. É um bom thriller, com algumas das melhores cenas de ação já escritas pelo autor, como o eletrizante jogo de gato e rato entre o bandido Mal’akh e Katherine dentro de um galpão fechado, sem nenhuma fonte de luz. "É uma cena curta, mas levei uma semana para escrevê-la. No final, estava com dores na mandíbula – percebi que estava apertando os dentes, por causa da tensão", diz Brown.

Robert Langdon, herói de ação e professor da inexistente disciplina da simbologia em Harvard, é um grande achado. O próprio Brown não se deu conta imediatamente do potencial do personagem: depois de apresentá-lo em Anjos e Demônios, abandonou-o no livro seguinte,Ponto de Impacto. Mas teve a sorte de ter mudado de agente na mesma época. "Li umas vinte páginas de Anjos e Demônios e disse para Brown: ‘Você tem de escrever mais livros com Langdon. Ele é seu grande personagem’", conta Heide Lange, o atual agente do escritor. Depois de O Código Da Vinci, outros tentaram a mesma fórmula do "thriller acadêmico", sem tanto sucesso. Brown parece de fato conhecer alguma ciência oculta.



A Nova Era de Dan Brown

As opiniões do autor de O Símbolo Perdido sobre Deus, o futuro da humanidade
e outras coisinhas mais

UMA MUDANÇA IMINENTE
Estamos nos movendo, astrologicamente, para uma nova era, e não é no sentido etéreo e vago que essa expressão costuma ter. Como espécie, nós, humanos, estamos no limiar de algumas escolhas cruciais. Nossa evolução moral e filosófica vai ser ultrapassada por nossos avanços científicos? Vamos evoluir filosoficamente, a ponto de dominar de fato a ciência que estamos desenvolvendo, ou vamos destruir a nós mesmos? Essas decisões serão tomadas, eu creio, nos próximos quinze anos. Teremos problemas sérios se não evoluirmos filosoficamente. Mas sou otimista. Sinto que há uma mudança iminente.

CIÊNCIA E RELIGIÃO
Estudei muito religião e ciência. E, de início, a ciência fazia mais sentido para mim do que a religião. Não conseguia conciliar o Gênesis com o Big Bang. Mas, quanto mais você se aprofunda na ciência, mais percebe que os cientistas buscam respostas para perguntas filosóficas, e mais a ciência se aproxima da religião. São duas linguagens contando a mesma história. Sou uma pessoa espiritual. Considero minha religião uma obra em aberto.

OS PERIGOS DA RELIGIÃO
Um dos perigos da religião é quando as pessoas começam a encarar a mitologia como fatos literais. Muitas histórias antigas não têm pé nem cabeça, e você precisa torcer a lógica para que façam sentido. É por isso que O Código Da Vinci incomodou tanto: era uma nova versão da história de Jesus, que para mim fazia mais sentido do que aquela que eu ouvi na escola dominical. Mas isso ameaça as pessoas cujo poder depende da manutenção da história original como verdade absoluta. Para minha sensibilidade, O Código Da Vinci não era um livro blasfemo. O fato de Jesus ter se casado não altera a verdade da sua mensagem. Não sou uma ameaça para a religião. Acho que ela tem apenas um inimigo: a apatia. Quer você goste dos meus livros, quer você os deteste, creio que são bons remédios contra a apatia. Levam as pessoas a pensar no que elas acreditam e em por que acreditam.

POLÍTICA, NÃO
Não gosto de falar de política. A política é contingente, temporal. Vai e vem, muda sempre com a última onda. Tenho mais interesse nas questões duradouras do universo, ocontinuum, o pulso da humanidade, que atravessa os séculos.

UMA IDEIA LINDA
Sou um tremendo patriota. Como qualquer país, cometemos erros. Nossa história está repleta deles. Mesmo assim, a ideia original dos Estados Unidos – uma nação iluminista, que aceita pessoas de todas as raças e crenças e deixa que elas tentem realizar seus sonhos – é uma ideia linda.

O DEUS AMERICANO
A maçonaria teve muita influência na origem dos Estados Unidos. É interessante que muita gente pense que os Estados Unidos são um país cristão. Talvez sejam, hoje. Mas não o eram na sua fundação. Os pais da nação eram deístas, não teístas. Os teístas acreditam que Deus interfere no mundo, que, se você rezar, Deus vai consertar as coisas para você. Os deístas acreditam que um ser poderoso colocou o universo em movimento – mas a partir daí é tudo conosco.

SUCESSO E RIQUEZA
Ganhei muito dinheiro, mas não penso muito nisso. Não tenho um iate e ainda dirijo um Toyota híbrido. Não estou interessado nos símbolos convencionais de riqueza. Tenho interesse, sim, em arte e arquitetura. Minha mulher e eu estamos construindo uma casa que será uma verdadeira obra de arte. É nossa grande extravagância. E o sucesso de O Código Da Vinci não mudou minha rotina de escritor. Ainda me levanto às 4 da manhã para escrever. Os meus personagens não se impressionam com o número de livros que eu vendi.

"Meu símbolo preferido"

Em O Símbolo Perdido, o circumponto tem papel fundamental. Segundo o livro,
representa tudo e mais um pouco: "a iluminação do deus-sol egípcio, o triunfo do ouro
alquímico, a sabedoria da pedra filosofal, a pureza da rosa dos Rosa-Cruzes, o instante da criação, o Todo
". Na casa nova que Brown e sua mulher estão construindo, haverá um circumponto em uma janela.
"Dependendo do dia e do ângulo do Sol, ele vai projetar seu ponto de sombra em azulejos específicos, com inscrições. Nossa casa vai ser cheia de códigos", diz o autor


LIVROS

O Símbolo Perdido, de Dan Brown

Capítulo 1

O elevador Otis que subia a coluna sul da Torre Eiffel estava lotado de turistas. Em seu interior abarrotado, o austero executivo de terno bem passado baixou os olhos para o menino ao seu lado.

- Você está pálido, filho. Devia ter ficado lá embaixo.

- Estou bem… - respondeu o garoto, esforçando-se para controlar a própria ansiedade. - Vou descer no próximo andar. - Não consigo respirar.

O homem chegou mais perto.

- Pensei que a esta altura você já tivesse superado isso. - Ele acariciou com afeto a bochecha do filho.

O menino estava com vergonha por desapontar o pai, mas mal conseguia escutar qualquer coisa, tamanho o zumbido em seus ouvidos. Não consigo respirar. Preciso sair de dentro desta caixa!

O ascensorista estava dizendo alguma coisa tranquilizadora sobre os pistons articulados e a estrutura de ferro forjado do elevador. Muito abaixo deles, as ruas de Paris se estendiam em todas as direções.

Estamos quase chegando, disse o menino para si mesmo, esticando o pescoço e erguendo os olhos para a plataforma de desembarque. Aguente firme.

À medida que o elevador se aproximava num ângulo acentuado do deque de observação, o poço se estreitava, e seus enormes tirantes se contraíam formando um túnel apertado, vertical.

- Pai, eu acho que não…

De repente, um estalo abrupto ecoou acima dele. O elevador deu um tranco e pendeu para um dos lados, desequilibrado. Cabos esgarçados começaram a chicotear em volta do compartimento, agitando-se feito cobras. O menino estendeu a mão para o pai.

- Pai!

Durante um segundo aterrorizante, seus olhares se cruzaram.

Então o fundo do elevador se soltou.

Robert Langdon teve um sobressalto, despertando assustado daquele sonho diurno semiconsciente. Estava sentado sozinho em sua macia poltrona de couro na imensa cabine de um jatinho corporativo Falcon 2000EX que atravessava aos solavancos uma área de turbulência. Ao fundo, ouvia-se o zumbido constante dos dois motores Pratt & Whitney.

- Sr. Langdon? - O alto-falante chiou acima dele. - Estamos na fase final de aproximação.

Langdon se endireitou no assento e tornou a guardar as notas da palestra dentro da bolsa de viagem de couro. Estava no meio de uma revisão da simbologia maçônica quando havia cochilado. Desconfiava que o sonho sobre o pai já falecido tivesse sido causado pelo inesperado convite, recebido naquela manhã, de seu antigo mentor, Peter Solomon.

O outro homem que nunca vou querer decepcionar.

O filantropo, historiador e cientista de 58 anos havia se tornado o protetor de Langdon quase 30 anos antes, preenchendo sob muitos aspectos o vazio deixado pela morte do pai. Apesar da influente dinastia familiar e da imensa fortuna de Solomon, Langdon encontrou humildade e calor humano em seus suaves olhos cinzentos.

Do lado de fora da janela, o sol havia se posto, mas Langdon ainda podia distinguir a silhueta esguia do maior obelisco do mundo, erguendo-se acima do horizonte como a coluna de um antigo relógio de sol. O obelisco de quase 170 metros de altura revestido de mármore marcava o centro daquela nação. A partir dele, a meticulosa geometria de ruas e monumentos se espalhava por todas as direções.

Mesmo vista de cima, Washington exalava um poder quase místico.

Langdon adorava aquela cidade e, quando o jatinho tocou o solo, sentiu uma animação crescente em relação ao que o dia lhe reservava. A aeronave taxiou até um terminal privado em algum lugar em meio à vastidão do Aeroporto Internacional Dulles e parou.

Langdon juntou suas coisas, agradeceu aos pilotos e emergiu do interior luxuoso do jatinho para a escada dobrável. O ar frio de janeiro dava uma sensação de liberdade.

Respire, Robert, pensou ele, apreciando os grandes espaços abertos. Uma manta de bruma branca cobria a pista de pouso e, ao descer para o asfalto enevoado, Langdon teve a sensação de estar pisando em um pântano.

- Olá! Olá! - chamou uma voz melodiosa com sotaque britânico. - Professor Langdon?

Langdon ergueu os olhos e viu uma mulher de meia-idade, de crachá e com uma prancheta na mão, caminhando apressada em sua direção, acenando alegremente enquanto ele se aproximava. Cabelos louros cacheados despontavam de baixo de um estiloso gorro de lã.

- Bem-vindo a Washington, professor!

Langdon sorriu.

- Obrigado.

- Meu nome é Pam, do serviço de atendimento a passageiros. - A mulher falava com uma exuberância quase perturbadora. - Se quiser me acompanhar, seu carro está aguardando.

Langdon a seguiu pela pista em direção ao terminal exclusivo, cercado por reluzentes jatinhos privados. Um ponto de táxi para os ricos e famosos.

- Sem querer constrangê-lo, professor - disse a mulher, um pouco encabulada -, o senhor é o Robert Landgon que escreve livros sobre símbolos e religião, não é?

Langdon hesitou, mas assentiu com a cabeça.

- Bem que eu achei! - disse ela, radiante. - Meu grupo de leitura leu o seu livro sobre o sagrado feminino e a Igreja! Ele provocou um escândalo delicioso! O senhor gosta mesmo de soltar a raposa no galinheiro!

Langdon sorriu.

- Criar escândalo não foi bem a minha intenção.

A mulher pareceu perceber que Langdon não estava disposto a conversar sobre o próprio trabalho.

- Desculpe. Olhe eu aqui falando. Sei que o senhor provavelmente está cansado de ser reconhecido… mas a culpa é toda sua. - Com ar brincalhão, ela indicou as roupas que ele usava. - O seu uniforme o entregou.

Meu uniforme? Langdon baixou os olhos para examinar as próprias roupas. Estava usando seu suéter grafite de gola rulê, um paletó de tweed Harris, uma calça cáqui e sapatos fechados de couro de cabra… seu traje padrão para aulas, palestras, sessões de fotos e eventos sociais.

A mulher riu.

- Essas golas rulês que o senhor usa são muito fora de moda. O senhor ficaria bem melhor de gravata!

De jeito nenhum, pensou Langdon. Pequenas forcas.

Quando Langdon estudava na Academia Phillips Exeter, o uso da gravata era obrigatório seis dias por semana e, apesar da visão romântica do diretor, segundo a qual a origem da gravata remontava à fascalia de seda usada pelos oradores romanos para aquecer as cordas vocais, Langdon sabia que, do ponto de vista etimológico, gravata na verdade vinha de um bando de cruéis mercenários croatas que amarravam lenços em volta do pescoço antes de partir para a batalha. Até hoje, esse antigo traje de combate é usado por guerreiros corpo - rativos modernos, que esperam intimidar os inimigos nas batalhas diárias das salas de reunião.

- Obrigado pelo conselho - disse Langdon com uma risadinha. - Daqui para a frente, vou pensar em usar gravata.

Por sorte, um homem de aspecto profissional vestindo um terno escuro desceu de um Lincoln estacionado junto ao terminal e chamou seu nome.

- Sr. Langdon? Sou Charles, da Beltway Limusines. - Ele abriu a porta traseira. - Boa noite. Bem-vindo a Washington.

Langdon deu uma gorjeta a Pam para lhe agradecer pela hospitalidade e, em seguida, entrou no interior luxuoso do carro. O motorista lhe mostrou os controles da calefação, a água mineral e o cesto de muffins quentinhos. Segundos depois, o Lincoln já seguia por uma rua de acesso exclusivo. Então é assim que vive a outra metade.

Enquanto disparava pela Windsock Drive, o motorista consultou a lista de passageiros e deu um telefonema rápido.

- Aqui é da Beltway Limusines - disse ele, com eficiência profissional. - Recebi instruções para confirmar quando meu passageiro tivesse aterrissado. - Ele fez uma pausa. - Sim, senhor. Seu convidado, Sr. Langdon, já chegou e eu o estou levando para o prédio do Capitólio. Devemos chegar lá antes das sete. De nada, senhor. - E desligou.

Langdon teve de sorrir. Ele pensou em todos os detalhes. A atenção que Peter Solomon dedicava às minúcias era uma de suas maiores qualidades, algo que lhe permitia administrar com aparente facilidade seu considerável poder. Alguns bilhões de dólares no banco também não fazem mal.

O professor se acomodou no confortável assento de couro e fechou os olhos à medida que o ruído do aeroporto ia ficando para trás. A viagem até o Capitólio demoraria meia hora, e ele ficou satisfeito por ter esse tempo sozinho para or - ganizar os próprios pensamentos. Tudo havia acontecido tão depressa naquele dia que só agora Langdon tinha começado a pensar a sério na incrível noite que tinha pela frente.

Chegando sob um véu de mistério, pensou ele, divertindo-se com a ideia. A pouco mais de 15 quilômetros do Capitólio, uma figura solitária se preparava ansiosamente para a chegada de Robert Langdon.


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